sábado, 9 de maio de 2015

Da CNH para a habilitação neozelandesa

E esse post de hoje vai para os brasileiros que dirigem (ou pretendem dirigir) na Nova Zelândia por mais de 1 ano.

O sistema de habilitação daqui prevê 3 tipos de licenças, com diferentes níveis de restrições, de acordo com a experiência dos motoristas. A licença que todos querem é a full. E essa aí embaixo é a minha. Ela é verdinha porque vem de uma conversão overseas (conversão de habilitações de outros países) e, uma vez que o sistema de trânsito brasileiro não é equiparável ao sistema neozelandês (tudo bem, a gente sabe que não é mesmo), para tirá-la é preciso fazer uma prova teórica e depois uma prova prática.

Habilitação neozelandesa...

Legal, né? É, mas tem uma pegadinha:

...Com restrição de supervisão  :-(

A condição acima diz que eu só posso dirigir com um "supervisor". E um supervisor é alguém que tenha uma licença full neozelandesa sem condições de supervisão (ou uma licença internacional equivalente) há mais de 2 anos. Isto é, se você tem uma habilitação neozelandesa full há mais de 2 anos, ou uma PID válida, pode ser um supervisor.

A carteira acima eu ganhei após passar na prova teórica. Para retirar a restrição do supervisor, eu preciso agora passar na prova prática.

Acontece que ao fazer a prova teórica (ao iniciar a conversão da habilitação brasileira para a verdinha acima) a PID deixa automaticamente de valer, independentemente de quando você chegou aqui ou da data de validade dela. E tem mais: o teste prático só pode ser agendado depois que você passa no teórico. Traduzindo: vai ser muito difícil conseguir fazer um logo após o outro.

Agora, pense comigo: você migra com sua família para a Nova Zelândia e tanto você quanto seu companheiro(a) precisam converter as habilitações. Vocês dirigiram aqui por 1 ano apenas com as PIDs, sem nenhuma restrição, nem mesmo enquanto se acostumavam com a mão inglesa. Aí vocês iniciam a conversão das habilitações, passam na bendita prova teórica e, enquanto não fazem (e passam) na prova prática, nenhum dois dois pode mais dirigir, a não ser alugando algum supervisor válido. Pode?!?

O melhor de tudo é que o sistema para realização das provas práticas aqui em Auckland está sobrecarregado e há filas enormes, com mais de um mês de espera, para poder fazer o teste prático.

Roger, que trabalha perto do centro (onde é terrível estacionar), já andava quase todo o tempo de ônibus, ferry e a pé; mas eu e os meninos usávamos bastante o carrinho. Como é que a gente está se virando com o carro na garagem agora? Bem, estamos todos entrando em forma...


Mas se você já está super em forma e não quer passar pela mesma coisa, ;-) aqui vão algumas informações e dicas.

Processo de conversão da habilitação brasileira para a neozelandesa

  1. Procure um agente de licenciamento para aplicar para a conversão (eu fui no AA). Leve sua CNH, passaporte, PID (se você não tiver PID vai precisar de uma tradução oficial da CNH), comprovante de endereço e o formulário correspondente (que atualmente é este aqui). Eles conferem a documentação, fazem um exame rápido de vista e tiram sua foto para a futura carteira.
  2. Pague a taxa e faça a prova teórica. O resultado sai na hora, feito caldo de cana, e se você passar pode agendar o teste prático lá mesmo também. 
  3. Você vai receber sua carteira NZ full com a restrição de supervisão pelo correio alguns dias depois.
  4. Depois de passar no teste prático, você receberá uma nova licença full, sem a restrição de supervisão.

Como se preparar para os testes

  • Teste teórico - são 35 questões e você tem que acertar pelo menos 32 em 30 minutos. Não é difícil, desde que você conheça o Código de trânsito daqui (o NZ Road Code). Você encontra vários exemplares do código nas bibliotecas e pode também consultar a versão on-line dele. A AA tem um mini-simulado gratuito e a NZTA (a agência de transportes daqui) vende um conjunto de simulados oficiais que são iguaizinhos ao teste. Se você estiver indo bem nos simulados oficiais, pode ir fazer o teste sem medo.
  • Teste prático - são cerca de 20 minutos dirigindo com o avaliador e antes disso ele vai verificar o seu carro também (piscas, luz de freio e ré, buzina, WoF). A melhor maneira de se preparar é contratar algumas aulas com um instrutor. Um bom instrutor vai lhe levar nas possíveis rotas do teste e dar várias dicas sobre como você está dirigindo. Também vale a pena dar uma olhada nos vídeos e orientações da NZTA.

Dicas

  • Leia o NZ Road Code o quanto antes. Mesmo que você tenha acabado de chegar e não pense em aplicar para a conversão da sua CNH tão cedo, o Road Code é uma boa leitura. Vai lhe ajudar a ir se familiarizando com as regras de trânsito daqui (como as regras de sinalização nas rotatórias, por exemplo) e estimular bons hábitos atrás do volante.  ;-)
  • Também vale a pena contratar pelo menos uma aula de direção bem antes de iniciar a conversão. Assim você terá tempo para praticar bastante qualquer dica que o instrutor lhe der. As aulas podem ser agendadas através da AA, por telefone ou aqui. Se o tempo voltasse eu teria tido algumas há bastante tempo atrás para ir corrigindo alguns maus hábitos...
  • Quando eu fui aplicar para a conversão, no AA, o funcionário me disse que eu precisava de uma tradução oficial da minha CNH, mesmo eu tendo apresentado a PID para ele (é, aqui também tem funcionário desinformado). Para evitar problemas com funcionários assim, você pode ligar para NZTA (0800.822.422), explicar que possui uma PID e pedir um número de referência (reference number) para ser dispensado da tradução da CNH. Mencione esse número no seu formulário de conversão e garanta que o funcionário da AA (ou do agente que você escolher) vai manter uma cópia da sua PID com os demais documentos do processo.
  • Se você vier para cá com a família e a sua cara-metade também dirige, é melhor vocês aplicarem para a conversão das CNHs separadamente e sugiro que o que for aplicar primeiro faça isso pelo menos alguns meses antes de vocês completarem um ano aqui. Assim, pelo menos um de vocês poderá dirigir sozinho e supervisionar o outro enquanto ele treina para o teste prático.
  • Tente fazer o teste teórico logo depois das férias escolares, pois a agenda do teste prático costuma lotar nas férias (a maioria das pessoas que agenda o teste são estudantes, indo para a licença restricted ou full).
  • Se possível, não agende o teste prático perto das 9 am, nem das 3 pm. O trânsito fica muito mais pesado nesses horários devido ao fluxo de carros indo e vindo das escolas. Das 10 am às 2 pm é o melhor intervalo.
  • Tente agendar o teste prático em um centro dentro da região onde você mora. Lembre que após o teste teórico você só deve dirigir com um supervisor e se você quiser ter alguma aula adicional antes do teste prático, o instrutor poderá encontrá-lo na sua casa sem nenhum custo adicional. Além disso, se você se atrasar para o teste prático, vai ter que remarcá-lo.
  • Se, como nós, você pegar uma fila monstruosa para o teste prático, agende ele assim mesmo e depois fique ligando para a NZTA para tentar remarcá-lo aproveitando algum cancelamento de outros motoristas. A remarcação custa NZ$ 16.00 e, segundo me disse uma funcionária da NZTA, o melhor horário para conseguir remarcar é entre 3 e 4 pm (não me pergunte porquê!).

Mais informações

sábado, 2 de maio de 2015

Dirigindo na mão inglesa

Esse post vai especialmente para os brasileiros que querem dirigir na Nova Zelândia...

Pra começo de conversa, se prepare para dar um nó no seu juízo quando começar a andar na mão inglesa. Não estou brincando, logo que você começa a dirigir aqui parece que está tudo fora do lugar.

Trocaram o pisca com o limpador de para-brisa e você acha que chove toda santa vez que quer virar em alguma rua. Seu carro fica repentinamente mais largo do lado esquerdo e você desenvolve uma estranha dependência das linhas na estrada pra mantê-lo no centro da faixa. E, claro, todo mundo anda na contra-mão! Tenho uma amiga americana que falou que a primeira vez que veio aqui, ao olhar a cidade pela janela da aeronave, teve a sensação que todos os veículos andavam de ré...

Falando sério, todo cuidado é pouco para você não entrar na contra-mão. A melhor dica para isso quem nos deu foi um brasileiro, claro: "Cuide para que você, motorista, esteja sempre no lado mais distante da calçada, perto do centro da rua".  Pronto! Regra simples, direta e fácil de aplicar. Se você usá-la direitinho, pelo menos vai perceber bem rápido quando entrar na contra-mão.

Outra dica boa é levar um adulto ao seu lado, no banco do passageiro, de preferência um outro imigrante que já esteja acostumado a dirigir aqui. Se ele já passou por essa situação antes, for atento e não tiver tendências suicidas, vai lhe ajudar a evitar problemas. Também vai dar umas risadas da sua cara de concentração-total-nesse-mundo-louco, mas tudo bem.

Roger começou a dirigir antes de mim, dirigia quase todo dia (para adestrar o cérebro à nova situação, quanto mais prática melhor) e acostumou rápido com a mão inglesa. Acho que depois de umas 2 semanas ele já estava super tranquilo. A não ser, claro, quando saía como meu passageiro, né? Mas casamento tem dessas coisas, vez por outra o camarada tem que dar uma prova do seu amor...

Voltando à direção, o trânsito aqui ajuda, pois em geral é bem comportado e certinho. Todo mundo sinaliza, anda na sua faixa e é muito raro vermos carros estacionados na contra-mão (acho que durante todo esse tempo em que estamos aqui eu só vi uns 2 ou 3). Então, quando estiver em dúvida, você pode se guiar pelos outros veículos na sua frente sem problema.

Também ajuda usar um carro com câmbio automático, assim você não precisa ficar passando marchas e vai evitar muitas pancadas na mão direita, que insiste em passar marchas na porta, por mais estranho que isso pareça.

Nós andamos primeiro em um carro alugado e pagamos contentes um extra pelo seguro total. Mas graças a Deus, não precisamos dele não. Para alugar o carro e dirigir por aí, você vai precisar de uma Permissão Internacional para Dirigir (PID), como essa aí embaixo.



Todo mundo que vai pro exterior e dirige deve ter uma dessas. Elas foram criadas para facilitar a vida dos turistas mundo afora e são super fáceis de tirar - você só precisa estar com a sua habilitação em dia e pode resolver tudo pela internet mesmo. Basta ir no site do Detran de seu estado e procurar por "Permissão Internacional para Dirigir" (normalmente uma opçao dos Serviços online ou Habilitação). Preencha os formulários, pague a taxa e pronto: depois de alguns dias a PID estará disponível para você.

Aqui na Nova Zelândia a gente pode andar a vontade com a PID por 1 ano. Depois disso ela perde a validade, pois eles consideram que após esse prazo você já mora mesmo aqui e precisa tirar sua habilitação local. Tem muitos imigrantes que evitam isso viajando para fora do país ao completar um ano - quando eles voltam a PID pode ser usada por mais 1 ano novamente, desde que continue válida (a data de validade dela é a mesma da CNH original).

Como a gente não se entusiasma muito com essa idéia, queremos é tirar nossas carteiras de motorista neozelandesas mesmo. Mas isso já é assunto para outro post... Por enquanto, termino dizendo que dirigir na mão "trocada" é uma experiência no mínimo curiosa. É difícil descrever a sensação das primeiras horas de direção na mão inglesa. No início, é como se você estivesse fazendo tudo errado o tempo todo e você anda com um sinal de alerta tocando na sua cabeça sem parar.

No Brasil, a gente dirige executando várias ações automaticamente, sem nem perceber. Aqui, na mão inglesa, a maioria dessas ações perde o sentido e você precisa reprogramar o seu cérebro para o novo contexto. Nesse período de adaptação, não dá para relaxar. Quando você relaxa, liga o piloto automático e o seu piloto automático precisa de algum tempo para assimilar o fato que agora você está na mão contrária.

O melhor exemplo que vi disso foi a história do "push". Ao ver push escrito em uma porta, o seu primeiro impulso é puxar, certo? Não importa o quanto você saiba que push significa "empurre", você precisa de uma fração de segundo a mais para se concentrar na informação, esquecer o impulso original e empurrar a porta na direção certa.

Mas depois de algum tempo o cérebro se reprograma e você pode voltar a confiar nos seus impulsos novamente. Bom, eu ainda levo umas travadas da porta da biblioteca de vez em quando, mas em compensação nunca mais tentei entrar no carro pela porta do passageiro quando a motorista era eu!  :-)