quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Feliz Natal!

No Brasil, nosso Natal era bem movimentado, com os dias 24 e 25 de dezembro sempre reservados para visitas a família - minha mãe, meu pai, minha sogrinha, irmãs, cunhadas, sobrinhos... Meio mundo de abraços e sorrisos concentrados em 2 dias!

Então, quando dezembro chegou, eu fiquei a me perguntar como seria nosso primeiro ano longe de tudo isso... E agora posso dizer que foi melhor do que eu esperava! :-)  Claro que a saudade é muito forte, mas até que sobrevivemos bem, sabe por que?

Pra início de conversa, é difícil se deixar abalar depois que o verão chegou! Os dias se estendem até depois das 9 da noite e mesmo quando está nublado e chovendo você consegue andar por aí de camiseta numa boa. Pode parecer esquisito, mas guardar as meias-calças e o aquecedor no armário me deu uma satisfação imensa! Usar vestidinho e havaiana fora de casa, então, nem se fala!  :-)

Outra pequena mudança (que fez toda diferença para mim!) são as pohutukawas em flor. A pohutukawa é uma árvore muito comum por aqui, mas eu nunca as havia notado até começarem a florir. Elas florescem perto do Natal, decorando o verde das folhas primeiro com uns botõezinhos claros e depois com lindas flores vermelhas de pontinhas amarelo-dourado!


Você encontra pohutukawas em todo canto, com todos os tamanhos e formas e das grandes e altas às bem pequeninas, com cara de recém plantadas, todas elas florescem nesta época! São como um lembrete silencioso e intenso que o Natal se aproxima, que é tempo de desabrochar e iluminar o mundo à sua volta...

E por último, mas talvez o mais importante: alguns anjos vieram nos ajudar a passar um bom Natal... Eles apareceram sem aviso há algum tempo atrás e trouxeram um brilho especial à nossa festa: os amigos, os novos amigos! Quando a gente mora fora, os "amigos virtuais" (amigos de verdade, mas com os quais só temos contato pela internet agora) ajudam muito, mas não são o bastante. É preciso fazer amigos locais, com os quais a gente pode conversar cara a cara, sair para tomar um café, deixar as crianças em caso de necessidade...

Esses novos amigos encheram a nossa árvore de lindos presentes, daqueles que você tem que esperar o dia 25 para saber o que é (e os garotos hoje madrugaram só para poder, finalmente, abri-los!) e daqueles que não se embrulha: sorrisos, abraços, conforto, esperança, calor humano...

Que neste Natal e no ano novo que se aproxima, todos vocês possam contar com esse tipo de presente também!  :-)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

E por que a Nova Zelândia?

Porque, se era para sair da zona de conforto, que fosse pelo menos para um lugar confortável, né?  ;-)

Acontece que essa também foi uma decisão tomada com o coração. Claro que, como quase tudo que nós decidimos em conjunto, teve um bocado de racionalização no meio e eu bem poderia dizer que foi porque a Nova Zelândia é um país de língua inglesa, com clima ameno, bons índices de qualidade de vida (clique aqui para outro site legal sobre isso!) e onde a gente pontuava bem para obter o visto.

Mas a verdade é que isso tudo só serviu para reforçar uma preferência já estabelecida! Como quando você quer trabalhar com um certo fulano, quer contratar ele para a sua empresa - você abre um processo de seleção e avalia também outros currículos só para, no final, ter certeza que está tomando a decisão certa. Ou melhor, para ter argumentos racionais que justifiquem uma decisão já tomada pelo seu coração há muito tempo atrás.

Roger e eu viemos aqui de férias em 2005, antes dos meninos nascerem. Passamos um mês mochilando pelo país e adoramos a Nova Zelândia! Então, quando começamos a pensar para onde mudaríamos, a terra da longa nuvem branca (Aotearoa) pareceu uma escolha natural.

Conhecer o lugar para onde estávamos indo, e gostar dele, ajudou bastante na decisão de vir. Eu admiro as pessoas que vão morar em uma determinada cidade sem nunca ter estado lá antes... Isso sim é que é desprendimento e auto-confiança! Mas, para mim, não funciona assim. Acho muito arriscado mudar para um local que você só conhece pela internet - um monte de dados e fotos ajuda, mas dificilmente seria o bastante para mim. Eu preciso ir lá e interagir com as pessoas, andar pelas ruas, sentir o cheiro do canto para saber se vou me encantar com ele...

Em 2005, nós conhecemos 13 cidades da Nova Zelândia e poderíamos morar em 12 delas sem problemas. Da grande Auckland, com seu 1,4 milhão de habitantes, aos pequenos vilarejos que é possível conhecer inteirinhos a pé, quase qualquer lugar poderia ser nossa casa. Quero dizer, era fácil imaginar nossa casa nessas ilhas... Na época, a gente nem sonhava que um dia moraríamos fora do Brasil, mas se fosse para sonhar, seria aqui.  :-)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Por que mudar?

Quando a gente muda para um outro país, tem duas perguntas que ouvimos constantemente. A primeira é "Por que você resolveu mudar?" e a segunda, "Por que veio para cá?". No nosso caso, "Por que veio para a Nova Zelândia?".

Eu sei que muitos casais migram para o exterior movidos pelo desejo de oferecer uma vida melhor para seus filhos, mas conosco não foi bem assim... A fagulha que acendeu o nosso desejo de mudar não foi tão nobre, não nasceu da preocupação com o futuro dos garotos.

Sim, os índices crescentes de violência no Brasil nos preocupavam (ainda preocupam!) e também não estávamos contentes com o trânsito e a corrupção generalizadas no nosso país. Mas felizmente podíamos pagar boas escolas para os meninos e éramos todos assistidos por bons médicos. Morávamos numa casa própria em um pequeno paraíso, perto da cidade, mas relativamente longe da violência e com ótimos vizinhos.

Tínhamos amigos maravilhosos por perto, família a apenas alguns quilômetros de distância (quase todos na mesma cidade) e Roger tinha um emprego excelente. Desde a gravidez de Caio eu estava apenas dando aulas (em geral, umas poucas horas por semana), mas minha rede de relacionamentos profissionais era muito boa, então acho que não seria tão difícil "voltar a ativa".

Com tudo tão organizado e tranquilo... Por que mudar? Justamente por isso! A fagulha que tocou fogo na nossa decisão foi o desejo de fazer algo diferente, de sair da zona de conforto.

Tá, tudo bem, quem queria mesmo sair da zona de conforto era Roger. Porque eu já havia saído dela desde o nascimento de Martim!  :-)

Talvez isso explique porque, apesar da idéia de passarmos um tempo no exterior ter sido minha, eu precisei de uns dois meses para realmente me comprometer com ela, enquanto Roger levou o tempo do semáforo abrir. Nós estávamos no trânsito, conversando sobre como devia ser legal morar um tempo em outro país, com outra língua, outra cultura... Tudo novo, tudo a aprender, tudo a conquistar!

Quase fizemos isso quando éramos mais jovens, mas a vida foi nos presenteando com outros desafios e, por um motivo ou outro, nunca moramos fora do Brasil... Daí, a conversa seguiu mais ou menos assim:

Eu: "Bom, então por que não vamos agora?"

Roger: "Tá falando sério?"

Eu: "Por que não? Os meninos estão em uma idade boa, temos algum dinheiro guardado para investir nisso, eu não estou empregada, você está em um momento tranquilo no seu trabalho... Se quisermos mesmo ir, talvez agora seja a hora."

O sinal fecha. Ele estreita os olhos, pensativo... Eu me dou conta de onde estou me metendo! O sinal abre. Ele olha para mim, decidido: "Por mim nós vamos". Eu sinto um frio na barriga e imagino se não perdi uma ótima oportunidade de ficar calada...  :-)

Então foi assim que aconteceu, ali no carro, naquela conversa casual. É claro que depois disso a gente pensou e repensou um bocado, pesamos os prós e contras umas dez mil vezes e tivemos umas três "reuniões de go/no go" em momentos decisivos.

Mas saber a nossa motivação inicial, conhecer a fagulha que incendiou nossas almas, sempre ajudou a manter o rumo, antes de vir e depois que chegamos aqui também. Afinal, quando a saudade aperta e tudo parece fora do lugar, é muito bom lembrar que o desconforto também faz parte do jogo. No pain, no gain. Tô certa?  ;-)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Quer testar o seu inglês? Reunião nele!

Semana passada fui a reunião sobre levantamento de recursos (fundraising) na escola dos meninos e descobri que o que eu preciso levantar mesmo é o meu inglês! Nossa!

Olha, se você quer ver como anda o seu listening, o teste de ouro é ir a uma reunião e sair entendendo tudo! As conversas paralelas, as piadinhas, o povo que fala bem baixinho lá do outro lado da sala...

É frus-tran-te! Afinal, eu já uso o telefone sem receio, não tenho dificuldade para conversar com ninguém, passei a entender as notícias dos telejornais daqui (Breakfast é o mais desafiador deles) e a quantidade de vezes que escuto elogios ao meu inglês cresceu consideravelmente nos últimos tempos. A conversa é mais ou menos assim:

- Você está aqui há quanto tempo?
- 8 meses - eu respondo.
- Só 8 meses?! Seu inglês é muito bom! Vocês aprendem inglês nas escolas, no Brasil?

Então, nada mais justo que achar que o inglês "já está dominado", né? Que nada! Vai pra uma reunião pra ver...

Começou até bem, eu cheguei uns minutos antes, apresentei-me e fiquei batendo papo com a pessoa ao meu lado. Tudo tranquilo... Aí a reunião começou e acabou a festa!

Eu sabia sobre o que eles estavam falando e até fiz algumas perguntas para tentar entender melhor uma das ações pensadas para captar recursos. E só. O resto se resumiu a dar um sorrisinho amarelo na hora das piadas, esperar a ata para saber o que ficou decidido e preparar o espírito para os próximos encontros.

Essa reunião foi do PTA (Parent Teacher Association) da escola dos meninos, uma associação de pais e professores que trabalha voluntariamente pela/para a escola. A pauta girou em torno das ações para captação de recursos que poderiam ser realizadas no ano que vem, ou seja, a maior parte do tempo foi uma espécie de brainstorm sobre o que poderia ser feito - as pessoas davam idéias, falavam sobre outras ações que aconteceram em anos passados, relembravam o que deu certo, davam risada do que deu errado...

Parece fácil, né? Pois então vai lá você! Devia ter cerca de doze pessoas na sala e as únicas que eu conseguia entender claramente eram a diretora da escola e a mãe que estava ao meu lado. E Roger diz que a diretora não conta, porque ela é professora primária e está acostumada a falar claro e articuladamente com as crianças...

Ele também diz que com o tempo melhora, porque você começa a se acostumar com o vocabulário usado e com a maneira que cada pessoa fala, com o sotaque e maneirismos de cada um. E isso facilita muito o entendimento.

Assim espero! Ou vou começar a ir para cafés e restaurantes só para treinar escutando as conversas das mesas ao lado...