Trocaram o pisca com o limpador de para-brisa e você acha que chove toda santa vez que quer virar em alguma rua. Seu carro fica repentinamente mais largo do lado esquerdo e você desenvolve uma estranha dependência das linhas na estrada pra mantê-lo no centro da faixa. E, claro, todo mundo anda na contra-mão! Tenho uma amiga americana que falou que a primeira vez que veio aqui, ao olhar a cidade pela janela da aeronave, teve a sensação que todos os veículos andavam de ré...
Falando sério, todo cuidado é pouco para você não entrar na contra-mão. A melhor dica para isso quem nos deu foi um brasileiro, claro: "Cuide para que você, motorista, esteja sempre no lado mais distante da calçada, perto do centro da rua". Pronto! Regra simples, direta e fácil de aplicar. Se você usá-la direitinho, pelo menos vai perceber bem rápido quando entrar na contra-mão.
Outra dica boa é levar um adulto ao seu lado, no banco do passageiro, de preferência um outro imigrante que já esteja acostumado a dirigir aqui. Se ele já passou por essa situação antes, for atento e não tiver tendências suicidas, vai lhe ajudar a evitar problemas. Também vai dar umas risadas da sua cara de concentração-total-nesse-mundo-louco, mas tudo bem.
Roger começou a dirigir antes de mim, dirigia quase todo dia (para adestrar o cérebro à nova situação, quanto mais prática melhor) e acostumou rápido com a mão inglesa. Acho que depois de umas 2 semanas ele já estava super tranquilo. A não ser, claro, quando saía como meu passageiro, né? Mas casamento tem dessas coisas, vez por outra o camarada tem que dar uma prova do seu amor...
Voltando à direção, o trânsito aqui ajuda, pois em geral é bem comportado e certinho. Todo mundo sinaliza, anda na sua faixa e é muito raro vermos carros estacionados na contra-mão (acho que durante todo esse tempo em que estamos aqui eu só vi uns 2 ou 3). Então, quando estiver em dúvida, você pode se guiar pelos outros veículos na sua frente sem problema.
Também ajuda usar um carro com câmbio automático, assim você não precisa ficar passando marchas e vai evitar muitas pancadas na mão direita, que insiste em passar marchas na porta, por mais estranho que isso pareça.
Nós andamos primeiro em um carro alugado e pagamos contentes um extra pelo seguro total. Mas graças a Deus, não precisamos dele não. Para alugar o carro e dirigir por aí, você vai precisar de uma Permissão Internacional para Dirigir (PID), como essa aí embaixo.
Aqui na Nova Zelândia a gente pode andar a vontade com a PID por 1 ano. Depois disso ela perde a validade, pois eles consideram que após esse prazo você já mora mesmo aqui e precisa tirar sua habilitação local. Tem muitos imigrantes que evitam isso viajando para fora do país ao completar um ano - quando eles voltam a PID pode ser usada por mais 1 ano novamente, desde que continue válida (a data de validade dela é a mesma da CNH original).
Como a gente não se entusiasma muito com essa idéia, queremos é tirar nossas carteiras de motorista neozelandesas mesmo. Mas isso já é assunto para outro post... Por enquanto, termino dizendo que dirigir na mão "trocada" é uma experiência no mínimo curiosa. É difícil descrever a sensação das primeiras horas de direção na mão inglesa. No início, é como se você estivesse fazendo tudo errado o tempo todo e você anda com um sinal de alerta tocando na sua cabeça sem parar.
No Brasil, a gente dirige executando várias ações automaticamente, sem nem perceber. Aqui, na mão inglesa, a maioria dessas ações perde o sentido e você precisa reprogramar o seu cérebro para o novo contexto. Nesse período de adaptação, não dá para relaxar. Quando você relaxa, liga o piloto automático e o seu piloto automático precisa de algum tempo para assimilar o fato que agora você está na mão contrária.
O melhor exemplo que vi disso foi a história do "push". Ao ver push escrito em uma porta, o seu primeiro impulso é puxar, certo? Não importa o quanto você saiba que push significa "empurre", você precisa de uma fração de segundo a mais para se concentrar na informação, esquecer o impulso original e empurrar a porta na direção certa.
Mas depois de algum tempo o cérebro se reprograma e você pode voltar a confiar nos seus impulsos novamente. Bom, eu ainda levo umas travadas da porta da biblioteca de vez em quando, mas em compensação nunca mais tentei entrar no carro pela porta do passageiro quando a motorista era eu! :-)
Prezada Prima e Familia:
ResponderExcluirTudo bom com voces?! Aqui tá um calor danado ... Esta tal da mal inglesa é lasca mesmo ... Por mais que vá a inglaterra nao consigo dirigir por la ... Entro literalmente em panico !!! Bjao e tudo de bom para voces ...
Walter
Eita, e aqui o frio está chegando primo... Vamos trocar? ;-)
ExcluirKkkk, no começo é fogo mesmo! Os meninos sofreram conosco aqui: tinham que andar completamente calados e quietos, se dessem um pio levavam uma bronca danada! :-)