Dizem que a língua materna é a língua do coração, aquela que você começa a aprender no colo da sua mãe, ainda bebê. Ela não é formada apenas por palavras, mas também por carinho, gestos e ritmos. É embalada pelas festas anuais e ganha significados próprios de acordo com a cultura de cada região.
Tenho uma amiga brasileira que teve seus filhos na Alemanha. Eu lembro como fiquei impressionada com a filhinha dela, que conheci em umas férias que passaram no Brasil... A garotinha falava um português perfeito, tinha um leve sotaque nos "Rs" e nada mais!
"Como é que pode?", perguntei para a minha amiga, "Ela tem aulas de português?". Não, a menina não tinha aulas formais de português, mas escutava a mãe falar com ela em português todos os dias! E, vamos combinar, quando eles são bem novinhos, a comunicação com a mãe é o negócio mais importantes da vida, né? ;-)
Mas depois que vão crescendo, fazendo amizades, descobrindo o mundo, outras pessoas vão ocupando esse espaço que era privativo dos pais. E, se essas pessoas se comunicam em outro idioma... A língua materna perde um pouco do seu status. Divide a sua importância com o outro idioma, perde terreno.
E o que podemos fazer para ajudar?
Acho que a melhor ajuda é resgatar, nas crianças, o interesse pelo idioma natal. E apenas falar com elas em portugês não é o suficiente para isso! Tem que trazer um pouco daquele "colo de mãe" de volta a ativa. Tem que trazer de volta um pouco do ritmo e da cultura associados ao idioma e "abraçar" a criança com eles.
Por isso as manifestações culturais associadas ao idioma materno são tão relevantes. Ainda mais se elas resgatam boas lembranças nas crianças! Aqui em Auckland temos a sorte de ter uma comunidade brasileira bem organizada e ativa, com celebrações de datas como o São João e o dia das crianças - falando nisso, já estou até meio ansiosa para ver o que vai rolar no Carnaval! ;-)
Os brasileiros organizam encontros regulares e até aulas de português para crianças (links abaixo!). E eu sei que as bibliotecas aqui incentivam e abrem espaço para manifestações culturais de outros países. Na próxima vez que for lá na biblioteca, vou peguntar a respeito...
Também vou ver se nas férias consigo colocar os garotos na capoeira. Acho que as aulas são em inglês, mas aposto que as rodas são cantadas em português. E quer algo melhor que música, palmas, coro e um jogo de corpo inteiro para se conectar com nossa cultura?! Só espero que a turminha de capoeira não pare durante as férias escolares.
Agora, uma ferramenta que tenho usado bastante são as histórias (benditos sejam os livros infantis em português que trouxemos do Brasil!). A noite, antes de dormir, só vale história em português, né? :-) Ainda bem que quando eles querem que eu leia algum livro daqui, pedem para eu ler traduzindo para o português. Confesso que, depois de um dia cansativo, nem sempre a tradução sai legal, mas pelo menos nossa língua vai com eles para o sono...
Outra atividade que deve ajudar pra caramba são os skypes com a família e amigos do Brasil. A diferença de fuso atrapalha e não temos feito muitos, mas esse contato com certeza é um grande incentivo para as crianças manterem o português latente dentro de si!
Os CDs e DVDs também ajudam. Trouxemos vários, mais de 200 e, apesar de ter tido vontade de desistir e deixar todos quando estávamos naquela loucura de preparar as malas para a mudança, estou muito, muito contente que eles vieram! :-) Fico me perguntando apenas se algum dia os meninos vão pedir para assistir os fimes com "som original"... Será?!
Termino com locais onde é possível exercitar/vivenciar o português aqui em Auckland:
- Brasileirinho – Grupo voltado para a preservação da nossa língua e tradições culturais.
- Curso de Língua Portuguesa e Cultura Brasileira para Crianças – projeto que conta com o apoio da Embaixada Brasileira da Nova Zelândia.