quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Por que mudar?

Quando a gente muda para um outro país, tem duas perguntas que ouvimos constantemente. A primeira é "Por que você resolveu mudar?" e a segunda, "Por que veio para cá?". No nosso caso, "Por que veio para a Nova Zelândia?".

Eu sei que muitos casais migram para o exterior movidos pelo desejo de oferecer uma vida melhor para seus filhos, mas conosco não foi bem assim... A fagulha que acendeu o nosso desejo de mudar não foi tão nobre, não nasceu da preocupação com o futuro dos garotos.

Sim, os índices crescentes de violência no Brasil nos preocupavam (ainda preocupam!) e também não estávamos contentes com o trânsito e a corrupção generalizadas no nosso país. Mas felizmente podíamos pagar boas escolas para os meninos e éramos todos assistidos por bons médicos. Morávamos numa casa própria em um pequeno paraíso, perto da cidade, mas relativamente longe da violência e com ótimos vizinhos.

Tínhamos amigos maravilhosos por perto, família a apenas alguns quilômetros de distância (quase todos na mesma cidade) e Roger tinha um emprego excelente. Desde a gravidez de Caio eu estava apenas dando aulas (em geral, umas poucas horas por semana), mas minha rede de relacionamentos profissionais era muito boa, então acho que não seria tão difícil "voltar a ativa".

Com tudo tão organizado e tranquilo... Por que mudar? Justamente por isso! A fagulha que tocou fogo na nossa decisão foi o desejo de fazer algo diferente, de sair da zona de conforto.

Tá, tudo bem, quem queria mesmo sair da zona de conforto era Roger. Porque eu já havia saído dela desde o nascimento de Martim!  :-)

Talvez isso explique porque, apesar da idéia de passarmos um tempo no exterior ter sido minha, eu precisei de uns dois meses para realmente me comprometer com ela, enquanto Roger levou o tempo do semáforo abrir. Nós estávamos no trânsito, conversando sobre como devia ser legal morar um tempo em outro país, com outra língua, outra cultura... Tudo novo, tudo a aprender, tudo a conquistar!

Quase fizemos isso quando éramos mais jovens, mas a vida foi nos presenteando com outros desafios e, por um motivo ou outro, nunca moramos fora do Brasil... Daí, a conversa seguiu mais ou menos assim:

Eu: "Bom, então por que não vamos agora?"

Roger: "Tá falando sério?"

Eu: "Por que não? Os meninos estão em uma idade boa, temos algum dinheiro guardado para investir nisso, eu não estou empregada, você está em um momento tranquilo no seu trabalho... Se quisermos mesmo ir, talvez agora seja a hora."

O sinal fecha. Ele estreita os olhos, pensativo... Eu me dou conta de onde estou me metendo! O sinal abre. Ele olha para mim, decidido: "Por mim nós vamos". Eu sinto um frio na barriga e imagino se não perdi uma ótima oportunidade de ficar calada...  :-)

Então foi assim que aconteceu, ali no carro, naquela conversa casual. É claro que depois disso a gente pensou e repensou um bocado, pesamos os prós e contras umas dez mil vezes e tivemos umas três "reuniões de go/no go" em momentos decisivos.

Mas saber a nossa motivação inicial, conhecer a fagulha que incendiou nossas almas, sempre ajudou a manter o rumo, antes de vir e depois que chegamos aqui também. Afinal, quando a saudade aperta e tudo parece fora do lugar, é muito bom lembrar que o desconforto também faz parte do jogo. No pain, no gain. Tô certa?  ;-)

8 comentários:

  1. Sensacional ... Ontem a noite conversando com um grande amigo ele me disse que o difícil não é decidir com a razão, mas sim decidir com a emoção, colocando-se no lugar do outro que "sofrerá" as consequências da decisão ... E agora leio este teu texto ... O que será que está me reservando o destino, pois não creio em bruxas, mas que elas existem existem ...

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    1. Oi primo, acho que é bom quando o coração começa a brincadeira... Parece que quando a decisão inicia nele, ela fica mais consolidada, mais estável. Mas eu confesso que nunca decido só com ele! Depois que o coração aponta o rumo, minha razão tem que ir lá e validar tudo! Só aí eu me sinto confortável com a decisão. :-)

      Mas a decisão de mudar para cá foi diferente... Nasceu de um impulso (naquela conversa com Roger, no carro), a razão dizia que estava tudo bem e meu coração precisou de um certo tempo para comprar a idéia também.

      Boa sorte, serenidade e sabedoria para você nas suas decisões! Beijo!

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  2. Estou me intensificando demais com o seu blog. Por que será? Saudades, Deinha. Beijos.

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    1. Oi, Rouge Cerise! Eu fico contente! E adorei a idéia da loja "Cereja Vermelha", mas... Não consegui lhe identificar na foto! Kkkk Quem é você???

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  3. Muito bom Deia! Sair da zona de conforto exige coragem! Seu texto me fez pensar! Beijos mil

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    1. Oi Mana,
      olhaí, pra você continuar pensando: :-)

      "Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram."

      Recebi um dia desses, creio que é de Rubem Alves. Ilustrativo, né? ;-)

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  4. Muito bom, muito bom. Vcs são assim, gosto disso. Beijos saudosos

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    1. Ju, tomara que você ande as casas do jogo bem rapidinho de novo e venha aqui visitar a gente! ;-)
      Um beijão!!

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