Ontem, na aula
de inglês (sim, eu também estou estudando!), recebemos a visita de Sam,
um coreano que, se eu entendi direito, trabalha promovendo os serviços de saúde
neozelandeses junto a imigrantes asiáticos. Ele falou para a minha turma cerca
de 1 hora, mas por uns dois terços desse tempo a conversa não foi exatamente sobre serviços de saúde, mas sim sobre diferenças culturais! E o papo foi tão bom que acho que vou dedicar os próximos posts a comentar o que ele compartilhou conosco... ;-)
Sam nos
disse que o seu primeiro choque cultural (e talvez o maior deles!) aconteceu
quando ele se sentou ao lado de um colega para almoçar e o colega não lhe
ofereceu comida – simplesmente sentou-se e começou a comer, sem oferecer
nada. “Era como se eu não existisse”, disse Sam, “No meu país isso é um
absurdo, todo mundo oferece a comida antes de comer!”.
Isso não
significa que se você oferecer sua comida a um coreano ele vai aceitar. Na
verdade, eles normalmente não
aceitam. “Sabemos que não é uma pergunta de fato, é apenas um pequeno ritual que
ocorre antes das refeições. O outro
espera você dizer que não quer para começar a comer”, explicou Sam. Algo
semelhante ao nosso “Está servido?”.
Até Sam
entender que esse comportamento dos seus colegas kiwis não acontecia por sua causa,
mas sim devido ao “jeito kiwi de ser”, ele se sentiu muito mal. “Por que não me
oferecem a comida? Não sou bem-vindo? O que há de errado comigo?!” – era o que
ele costumava pensar.
Caio, que
gosta de compartilhar sua comida e adora quando os outros compartilham a comida
deles com ele, também deve ter sofrido um pouco por causa disso. No kindergarten (jardim de infância) que ele frequentava, as crianças almoçavam juntas duas vezes por semana, cada
uma levando sua comida de casa.
Eu lembro
que várias vezes ele voltou do kindergarten meio chateado nesses dias do almoço, dizendo que havia
“comido sozinho”. E eu tolamente sugeria: “Senta mais perto das outras
crianças”. Mas de que adiantava sentar perto dos outros se ele ainda ia comer
sozinho só a sua comida?
Realmente, para quem absorveu muito bem o conceito de que a mesa é um instrumento de socialização, sentar-se com várias crianças que ainda não conhece bem, sem falar uma palavra do idioma delas e “comer sozinho” deve ser duro...
Realmente, para quem absorveu muito bem o conceito de que a mesa é um instrumento de socialização, sentar-se com várias crianças que ainda não conhece bem, sem falar uma palavra do idioma delas e “comer sozinho” deve ser duro...
A cara-após-almoço dele só começou a melhorar depois que o jardim de infância promoveu um almoço coletivo
de fato, onde as crianças deveriam levar comida para compartilhar com seus
colegas e os pais poderiam ir almoçar lá também. Mas infelizmente eu não
entendi bem a mensagem e achei que o kindergarten
é que iria oferecer o lanche coletivo. Pensei que apenas os pais que fossem
almoçar lá é que deveriam levar seu almoço e, como eu não pretendia almoçar lá,
não levei comida nenhuma. Agora, imaginem a bronca que o sujeito me deu quando
cheguei lá de mãos abanando!...
Ele ficou tão chateado que eu já estava a ponto de correr na bodega mais próxima e comprar nem que fosse um pacote de biscoitos para ele dividir com os colegas. Mas, para nossa sorte, a mãe de um de seus amiguinhos falou que tinha comida suficiente para todos e nos chamou para almoçar com eles. No começo Caio ficou meio sem jeito, pois também queria ofertar algo, mas depois relaxou e até ofereceu umas cenouras do amiguinho para outras crianças! :-)
Inclusive, acho que foi depois desse dia que ele virou fã de cenourinhas cruas!... :-)
Inclusive, acho que foi depois desse dia que ele virou fã de cenourinhas cruas!... :-)
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