"A saudade é como um barco,
que aos poucos descreve um arco
e evita atracar no cais"
Pedaço de mim, Chico Buarque
Se tem algo que realmente atrapalha essa história de se sentir em casa é a tal da saudade. Pois é, saudade é um negócio esquisito... Surge não se sabe de onde, sem aviso, e, se você deixar, toma conta do mundo!
Ela me pegou numa madrugada dessas, ainda no meio do inverno, dum jeito que eu nunca havia imaginado antes. Mas antes de dizer como foi, deixa eu contar aos que moram perto da linha do Equador que aqui, no inverno, o dia começa a clarear depois das 7 da manhã! Faz um frio danado (pelo menos para mim, que venho de Recife, no nordeste do Brasil) e a maioria das casas tem carpete cobrindo o chão.
Bom, nessa noite em que a saudade me mostrou sua cara medonha, Caio encontrou o caminho para nosso quarto pela primeira vez. Até então ele e Martim estavam dormindo bem bonitinhos nas caminhas novas deles. Até quando "acamparam" nos sofás da sala, logo depois da mudança, dormiram a noite inteira por lá!
Mas nessa madrugada Caio apareceu sem aviso, procurando um lugarzinho sob nosso lençol e ligando o interruptor da minha memória afetiva... É que no Brasil ele costumava fazer isso, costumava aparecer na nossa cama no meio da noite. Os quartos eram próximos e depois que tiramos a grade do berço do menino, quase toda noite lá vinha ele, arrastando o travesseiro, deitar conosco.
Não sei bem porque, mas a imagem dele chegando nesse novo quarto, nesse outro país, foi o suficiente - a saudade me tomou por completo. Forte, profunda, inexorável.
Nosso quarto no Brasil tinha um janelão imenso, de parede a parede, em frente à cama. Às 5 da manhã já estava cheio de luz (e eu a-do-ro acordar com o sol). O piso era de madeira. Quando o menino chegava, calorento que era, não queria se cobrir - queria deitar no meio da cama, mas sem se cobrir. Empurrava o lençol para baixo com os pés, descobrindo a mim e a Roger. Como eu tenho mania de dormir coberta, a gente passava alguns minutos num puxa-empurra de lençois até encontrar uma posição confortável para todos novamente...
Agora, como explicar uma saudade tão avassaladora disso, dessa cena, dessas sensações?! Nessa madrugada foi a primeira vez em que não me senti "em casa" aqui na Nova Zelândia. Na verdade, senti-me um peixe fora d'água, sufocado de saudade. Minha casa é aquela, que acorda cheia de luz, com o chão de madeira, onde o menino chega de mansinho, de um quarto bem pertinho, e empurra o lençol com os pés...
O QUE EU ESTOU FAZENDO AQUI?!?
Ja pensei muito nisso. Sei bem como é se sentir assim... Mas vamos que vamos...
ResponderExcluirÉ duro, não é mesmo? Nossa, demorei uns dias para me recuperar... Mas a gente vai aprendendo a lidar com isso. E o "vamos que vamos" ajuda mesmo!
ExcluirOi Deia! A nossa caçula, Camila, faz a mesma coisa. Vem de mansinho, deita entre nos dois e empurra o cobertor. Fica aquela confusão de puxar e empurra lençol ate nos acomodarmos novamente no frio :-)
ResponderExcluirEita, Manu! No calorzinho seria mais fácil, né? Mas no frio, em compensação, é mais gostoso dormir juntinho, um aquecendo o outro... :-)
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