quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Feliz Natal!

No Brasil, nosso Natal era bem movimentado, com os dias 24 e 25 de dezembro sempre reservados para visitas a família - minha mãe, meu pai, minha sogrinha, irmãs, cunhadas, sobrinhos... Meio mundo de abraços e sorrisos concentrados em 2 dias!

Então, quando dezembro chegou, eu fiquei a me perguntar como seria nosso primeiro ano longe de tudo isso... E agora posso dizer que foi melhor do que eu esperava! :-)  Claro que a saudade é muito forte, mas até que sobrevivemos bem, sabe por que?

Pra início de conversa, é difícil se deixar abalar depois que o verão chegou! Os dias se estendem até depois das 9 da noite e mesmo quando está nublado e chovendo você consegue andar por aí de camiseta numa boa. Pode parecer esquisito, mas guardar as meias-calças e o aquecedor no armário me deu uma satisfação imensa! Usar vestidinho e havaiana fora de casa, então, nem se fala!  :-)

Outra pequena mudança (que fez toda diferença para mim!) são as pohutukawas em flor. A pohutukawa é uma árvore muito comum por aqui, mas eu nunca as havia notado até começarem a florir. Elas florescem perto do Natal, decorando o verde das folhas primeiro com uns botõezinhos claros e depois com lindas flores vermelhas de pontinhas amarelo-dourado!


Você encontra pohutukawas em todo canto, com todos os tamanhos e formas e das grandes e altas às bem pequeninas, com cara de recém plantadas, todas elas florescem nesta época! São como um lembrete silencioso e intenso que o Natal se aproxima, que é tempo de desabrochar e iluminar o mundo à sua volta...

E por último, mas talvez o mais importante: alguns anjos vieram nos ajudar a passar um bom Natal... Eles apareceram sem aviso há algum tempo atrás e trouxeram um brilho especial à nossa festa: os amigos, os novos amigos! Quando a gente mora fora, os "amigos virtuais" (amigos de verdade, mas com os quais só temos contato pela internet agora) ajudam muito, mas não são o bastante. É preciso fazer amigos locais, com os quais a gente pode conversar cara a cara, sair para tomar um café, deixar as crianças em caso de necessidade...

Esses novos amigos encheram a nossa árvore de lindos presentes, daqueles que você tem que esperar o dia 25 para saber o que é (e os garotos hoje madrugaram só para poder, finalmente, abri-los!) e daqueles que não se embrulha: sorrisos, abraços, conforto, esperança, calor humano...

Que neste Natal e no ano novo que se aproxima, todos vocês possam contar com esse tipo de presente também!  :-)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

E por que a Nova Zelândia?

Porque, se era para sair da zona de conforto, que fosse pelo menos para um lugar confortável, né?  ;-)

Acontece que essa também foi uma decisão tomada com o coração. Claro que, como quase tudo que nós decidimos em conjunto, teve um bocado de racionalização no meio e eu bem poderia dizer que foi porque a Nova Zelândia é um país de língua inglesa, com clima ameno, bons índices de qualidade de vida (clique aqui para outro site legal sobre isso!) e onde a gente pontuava bem para obter o visto.

Mas a verdade é que isso tudo só serviu para reforçar uma preferência já estabelecida! Como quando você quer trabalhar com um certo fulano, quer contratar ele para a sua empresa - você abre um processo de seleção e avalia também outros currículos só para, no final, ter certeza que está tomando a decisão certa. Ou melhor, para ter argumentos racionais que justifiquem uma decisão já tomada pelo seu coração há muito tempo atrás.

Roger e eu viemos aqui de férias em 2005, antes dos meninos nascerem. Passamos um mês mochilando pelo país e adoramos a Nova Zelândia! Então, quando começamos a pensar para onde mudaríamos, a terra da longa nuvem branca (Aotearoa) pareceu uma escolha natural.

Conhecer o lugar para onde estávamos indo, e gostar dele, ajudou bastante na decisão de vir. Eu admiro as pessoas que vão morar em uma determinada cidade sem nunca ter estado lá antes... Isso sim é que é desprendimento e auto-confiança! Mas, para mim, não funciona assim. Acho muito arriscado mudar para um local que você só conhece pela internet - um monte de dados e fotos ajuda, mas dificilmente seria o bastante para mim. Eu preciso ir lá e interagir com as pessoas, andar pelas ruas, sentir o cheiro do canto para saber se vou me encantar com ele...

Em 2005, nós conhecemos 13 cidades da Nova Zelândia e poderíamos morar em 12 delas sem problemas. Da grande Auckland, com seu 1,4 milhão de habitantes, aos pequenos vilarejos que é possível conhecer inteirinhos a pé, quase qualquer lugar poderia ser nossa casa. Quero dizer, era fácil imaginar nossa casa nessas ilhas... Na época, a gente nem sonhava que um dia moraríamos fora do Brasil, mas se fosse para sonhar, seria aqui.  :-)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Por que mudar?

Quando a gente muda para um outro país, tem duas perguntas que ouvimos constantemente. A primeira é "Por que você resolveu mudar?" e a segunda, "Por que veio para cá?". No nosso caso, "Por que veio para a Nova Zelândia?".

Eu sei que muitos casais migram para o exterior movidos pelo desejo de oferecer uma vida melhor para seus filhos, mas conosco não foi bem assim... A fagulha que acendeu o nosso desejo de mudar não foi tão nobre, não nasceu da preocupação com o futuro dos garotos.

Sim, os índices crescentes de violência no Brasil nos preocupavam (ainda preocupam!) e também não estávamos contentes com o trânsito e a corrupção generalizadas no nosso país. Mas felizmente podíamos pagar boas escolas para os meninos e éramos todos assistidos por bons médicos. Morávamos numa casa própria em um pequeno paraíso, perto da cidade, mas relativamente longe da violência e com ótimos vizinhos.

Tínhamos amigos maravilhosos por perto, família a apenas alguns quilômetros de distância (quase todos na mesma cidade) e Roger tinha um emprego excelente. Desde a gravidez de Caio eu estava apenas dando aulas (em geral, umas poucas horas por semana), mas minha rede de relacionamentos profissionais era muito boa, então acho que não seria tão difícil "voltar a ativa".

Com tudo tão organizado e tranquilo... Por que mudar? Justamente por isso! A fagulha que tocou fogo na nossa decisão foi o desejo de fazer algo diferente, de sair da zona de conforto.

Tá, tudo bem, quem queria mesmo sair da zona de conforto era Roger. Porque eu já havia saído dela desde o nascimento de Martim!  :-)

Talvez isso explique porque, apesar da idéia de passarmos um tempo no exterior ter sido minha, eu precisei de uns dois meses para realmente me comprometer com ela, enquanto Roger levou o tempo do semáforo abrir. Nós estávamos no trânsito, conversando sobre como devia ser legal morar um tempo em outro país, com outra língua, outra cultura... Tudo novo, tudo a aprender, tudo a conquistar!

Quase fizemos isso quando éramos mais jovens, mas a vida foi nos presenteando com outros desafios e, por um motivo ou outro, nunca moramos fora do Brasil... Daí, a conversa seguiu mais ou menos assim:

Eu: "Bom, então por que não vamos agora?"

Roger: "Tá falando sério?"

Eu: "Por que não? Os meninos estão em uma idade boa, temos algum dinheiro guardado para investir nisso, eu não estou empregada, você está em um momento tranquilo no seu trabalho... Se quisermos mesmo ir, talvez agora seja a hora."

O sinal fecha. Ele estreita os olhos, pensativo... Eu me dou conta de onde estou me metendo! O sinal abre. Ele olha para mim, decidido: "Por mim nós vamos". Eu sinto um frio na barriga e imagino se não perdi uma ótima oportunidade de ficar calada...  :-)

Então foi assim que aconteceu, ali no carro, naquela conversa casual. É claro que depois disso a gente pensou e repensou um bocado, pesamos os prós e contras umas dez mil vezes e tivemos umas três "reuniões de go/no go" em momentos decisivos.

Mas saber a nossa motivação inicial, conhecer a fagulha que incendiou nossas almas, sempre ajudou a manter o rumo, antes de vir e depois que chegamos aqui também. Afinal, quando a saudade aperta e tudo parece fora do lugar, é muito bom lembrar que o desconforto também faz parte do jogo. No pain, no gain. Tô certa?  ;-)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Quer testar o seu inglês? Reunião nele!

Semana passada fui a reunião sobre levantamento de recursos (fundraising) na escola dos meninos e descobri que o que eu preciso levantar mesmo é o meu inglês! Nossa!

Olha, se você quer ver como anda o seu listening, o teste de ouro é ir a uma reunião e sair entendendo tudo! As conversas paralelas, as piadinhas, o povo que fala bem baixinho lá do outro lado da sala...

É frus-tran-te! Afinal, eu já uso o telefone sem receio, não tenho dificuldade para conversar com ninguém, passei a entender as notícias dos telejornais daqui (Breakfast é o mais desafiador deles) e a quantidade de vezes que escuto elogios ao meu inglês cresceu consideravelmente nos últimos tempos. A conversa é mais ou menos assim:

- Você está aqui há quanto tempo?
- 8 meses - eu respondo.
- Só 8 meses?! Seu inglês é muito bom! Vocês aprendem inglês nas escolas, no Brasil?

Então, nada mais justo que achar que o inglês "já está dominado", né? Que nada! Vai pra uma reunião pra ver...

Começou até bem, eu cheguei uns minutos antes, apresentei-me e fiquei batendo papo com a pessoa ao meu lado. Tudo tranquilo... Aí a reunião começou e acabou a festa!

Eu sabia sobre o que eles estavam falando e até fiz algumas perguntas para tentar entender melhor uma das ações pensadas para captar recursos. E só. O resto se resumiu a dar um sorrisinho amarelo na hora das piadas, esperar a ata para saber o que ficou decidido e preparar o espírito para os próximos encontros.

Essa reunião foi do PTA (Parent Teacher Association) da escola dos meninos, uma associação de pais e professores que trabalha voluntariamente pela/para a escola. A pauta girou em torno das ações para captação de recursos que poderiam ser realizadas no ano que vem, ou seja, a maior parte do tempo foi uma espécie de brainstorm sobre o que poderia ser feito - as pessoas davam idéias, falavam sobre outras ações que aconteceram em anos passados, relembravam o que deu certo, davam risada do que deu errado...

Parece fácil, né? Pois então vai lá você! Devia ter cerca de doze pessoas na sala e as únicas que eu conseguia entender claramente eram a diretora da escola e a mãe que estava ao meu lado. E Roger diz que a diretora não conta, porque ela é professora primária e está acostumada a falar claro e articuladamente com as crianças...

Ele também diz que com o tempo melhora, porque você começa a se acostumar com o vocabulário usado e com a maneira que cada pessoa fala, com o sotaque e maneirismos de cada um. E isso facilita muito o entendimento.

Assim espero! Ou vou começar a ir para cafés e restaurantes só para treinar escutando as conversas das mesas ao lado...

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

E para manter o portugUês vivo?

Gente, recebi um comentário tão legal de Monica, do Brasileirinho, que resolvi escrever mais um pouquinho sobre essa história de bilinguismo...

Dizem que a língua materna é a língua do coração, aquela que você começa a aprender no colo da sua mãe, ainda bebê. Ela não é formada apenas por palavras, mas também por carinho, gestos e ritmos. É embalada pelas festas anuais e ganha significados próprios de acordo com a cultura de cada região.

Tenho uma amiga brasileira que teve seus filhos na Alemanha. Eu lembro como fiquei impressionada com a filhinha dela, que conheci em umas férias que passaram no Brasil... A garotinha falava um português perfeito, tinha um leve sotaque nos "Rs" e nada mais!

"Como é que pode?", perguntei para a minha amiga, "Ela tem aulas de português?". Não, a menina não tinha aulas formais de português, mas escutava a mãe falar com ela em português todos os dias! E, vamos combinar, quando eles são bem novinhos, a comunicação com a mãe é o negócio mais importantes da vida, né?  ;-)

Mas depois que vão crescendo, fazendo amizades, descobrindo o mundo, outras pessoas vão ocupando esse espaço que era privativo dos pais. E, se essas pessoas se comunicam em outro idioma... A língua materna perde um pouco do seu status. Divide a sua importância com o outro idioma, perde terreno.

E o que podemos fazer para ajudar?

Acho que a melhor ajuda é resgatar, nas crianças, o interesse pelo idioma natal. E apenas falar com elas em portugês não é o suficiente para isso! Tem que trazer um pouco daquele "colo de mãe" de volta a ativa. Tem que trazer de volta um pouco do ritmo e da cultura associados ao idioma e "abraçar" a criança com eles.

Por isso as manifestações culturais associadas ao idioma materno são tão relevantes. Ainda mais se elas resgatam boas lembranças nas crianças! Aqui em Auckland temos a sorte de ter uma comunidade brasileira bem organizada e ativa, com celebrações de datas como o São João e o dia das crianças - falando nisso, já estou até meio ansiosa para ver o que vai rolar no Carnaval!  ;-)

Os brasileiros organizam encontros regulares e até aulas de português para crianças (links abaixo!). E eu sei que as bibliotecas aqui incentivam e abrem espaço para manifestações culturais de outros países. Na próxima vez que for lá na biblioteca, vou peguntar a respeito...

Também vou ver se nas férias consigo colocar os garotos na capoeira. Acho que as aulas são em inglês, mas aposto que as rodas são cantadas em português. E quer algo melhor que música, palmas, coro e um jogo de corpo inteiro para se conectar com nossa cultura?! Só espero que a turminha de capoeira não pare durante as férias escolares.

Agora, uma ferramenta que tenho usado bastante são as histórias (benditos sejam os livros infantis em português que trouxemos do Brasil!). A noite, antes de dormir, só vale história em português, né?  :-)   Ainda bem que quando eles querem que eu leia algum livro daqui, pedem para eu ler traduzindo para o português. Confesso que, depois de um dia cansativo, nem sempre a tradução sai legal, mas pelo menos nossa língua vai com eles para o sono...

Outra atividade que deve ajudar pra caramba são os skypes com a família e amigos do Brasil. A diferença de fuso atrapalha e não temos feito muitos, mas esse contato com certeza é um grande incentivo para as crianças manterem o português latente dentro de si!

Os CDs e DVDs também ajudam. Trouxemos vários, mais de 200 e, apesar de ter tido vontade de desistir e deixar todos quando estávamos naquela loucura de preparar as malas para a mudança, estou muito, muito contente que eles vieram! :-)  Fico me perguntando apenas se algum dia os meninos vão pedir para assistir os fimes com "som original"... Será?!

Termino com locais onde é possível exercitar/vivenciar o português aqui em Auckland:

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Portuglês chegando

Já ouvimos várias recomendações de outros brasileiros - e também de praticamente todas as professoras e educadores com os quais tivemos contato - com relação a falar em português com os meninos.

No início eu achava engraçado, afinal, mal havíamos chegado, os garotos ainda nem entendiam inglês direito, e o pessoal já perguntava: "E como está o português deles?". Quando fazíamos aquela cara de "Ué, por que a pergunta?!", diziam: "Ah, é que vocês acabaram de chegar... Espera um pouquinho pra ver."

Bom, acho que o pouquinho já passou! Mudamos a menos de 8 meses e eu percebo agora porque taaaantas recomendações com relação a manter viva a língua materna...

As crianças são uma esponjinha e, em geral, após alguns meses, todos eles apreendem o novo idoma. Antes de virmos, alguns amigos nos deram até um roteiro básico do que esperar:
  • No primeiro mês eles não falam nada (do novo idoma).
  • No segundo mês, ainda não falam, mas parecem já entender alguma coisa.
  • No terceiro mês começam a falar algo e depois disso... Não param  mais!
Com certeza, cada criança é única e esse roteiro básico pode apresentar diferenças. Aqui em casa mesmo, um dos garotos já chegou falando (apesar de só ter estudado inglês por uns 2 meses nas aulinhas da escola) e o outro só soltou mesmo a língua depois de entrar na escola (uns 5 meses depois de chegarmos).

Mas o fato é que eles aprendem, ou melhor, incorporam a novo idioma muito rápido e, se a língua materna não é usada... Já sabem, né? Em casa, mesmo falando português com eles todo o tempo, noto que já houve um certo retrocesso na maneira como usam nossa língua.

O uso dos pronomes, por exemplo, está falhando. É um tal de "Dá isso pra eu" que se repete o tempo todo, não importa o quanto a gente diga "Dá para mim, menino!". Mas o marco tragicômico da preocupação com o uso do português veio quando estávamos no carro, voltando para casa, há algumas semanas atrás. Martim, que sempre gostou de observar o trânsito, de repente falou assim: "Pai, pai, passa aquele vermelho carro!". 

Depois, quando comentei o ocorrido com ele, o garoto deu umas boas risadas e, do jeito que ele é, duvido que cometa o mesmo equívoco novamente. Mas ontem, quando o caçula Caio perguntou pelo irmão falando "Ele está na dele casa?", eu comecei a desejar que as nossas férias no Brasil não demorem tanto tempo para acontecer...

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Não confie na primavera!

É, não confie não!... Ela chega cheia de flores, brilho, cores e sol e quando você está bem tranquilo, achando que já pode colocar as roupas de frio no fundo do armário e dar férias para o aquecedor... Olha aí o resultado:
13 graus lá fora, um vento frio de lascar e nem um tiquinho de azul no céu...  :-(

Hunf! Se as estações fossem pessoas, a prima Vera seria aquela parente duas caras, que chega distribuindo rosas e abraços calorosos só para ganhar espaço na sua vida, na sua casa, no seu coração. Então, depois que você baixa a guarda e confia nela, pensa que maravilha é tê-la consigo, a dissimulada dá um sorrisinho e coloca as garras de fora!

Leva seus filhos para brincar lá fora de calção e camiseta e devolve-os doentes... Fecha o tempo de repente e você tem que cancelar todo o programa do final de semana... E, como se não bastasse, vez por outra convida sem aviso o Sr. Inverno - aquele moço frio, sombrio e muito CHATO - para o jantar!

Falando sério, a primavera é uma estação bonita, mas muito instável. As temperaturas aqui em Auckland variam, em média, de 18 a 11 graus, mas já tivemos dias com 24o e noites com 9o! O tempo costuma mudar de repente, então, convém manter os casacos e capas à mão e ter sempre um programa alternativo para os passeios ao ar livre...

Agora eu entendo porque, mesmo em dias ensolarados e quentes, ouvimos o pessoal que mora aqui dizendo "Ah, e quando o verão chegar...". Pelo visto o verão é um camarada com personalidade bem mais forte e definida que a prima Vera, né?  ;-)

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Enquanto isso, as notícias ressaltam o Brasil...

Sim, todos os jornais daqui têm mencionado o Brasil nos últimos dias... Hoje, as notícias envolvendo a pátria amada abriram o jornal da tarde! E elas não falavam da vitória da seleção, não (apesar da vitória da seleção também ter sido destaque no bloco sobre esportes! Mostraram todos os gols e contaram da volta de Dunga). Mas o que os jornais daqui realmente destacaram foi a eficiência da nossa Polícia Federal na captura do fugitivo John Smith.  :-)

John é um pedófilo assassino que conseguiu fugir da Nova Zelândia na quinta-feira passada. As autoridades neo-zelandesas tem sido bombardeadas pela imprensa local por conta do episódio. Até o primeiro ministro, John Key, precisou desculpar-se recentemente por conta de uma piada sem graça que fez sobre o assunto. Então, a "experiência das autoridades brasileiras na captura de fugitivos" deve ter deixado todos muito gratos.

E, obviamente, me encheu de orgulho!  :-)

Um orgulho que eu não sentia desde as primeiras imagens da ocupação do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro (apesar de todas os controversos aspectos do tema!). O fato é que se não respeitamos a nossa polícia, se não confiamos nela, que esperança podemos ter na nossa segurança, na segurança da nação?

E ouvir as autoridades de um outro país elogiando a nossa Polícia Federal em rede nacional (antes das notícias sobre nosso futebol) é reconfortante e animador!

Agora, só espero que o judiciário siga o exemplo e desembarace a deportação do sujeito rapidamente. Afinal, se demorarem muito, é capaz dele resolver vir por conta própria depois de conhecer o presídio Ary Franco...

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Diferenças culturais - Enquete

Dessas diferenças culturais todas a que eu mais senti foi a mudança da refeição principal do almoço para o jantar... Para falar a verdade, ainda não me acostumei com o "pequeno lanche" que eles fazem aqui no meio do dia (sinto falta de "comida de verdade", para comer com garfo e faca!), nem tampouco me acostumei com arroz-com-feijão toda noite.

Na minha família, a gente normalmente tinha uma ceia a noite, com pão, queijo, leite e um prato quente como sopa, inhame, macaxeira, batata doce, tapioca, cuscuz... Jantar mesmo, só em ocasiões especiais.

Caio é como eu, e de vez em quando ainda pede para levar "almoço" para a escola. Não sei como ele curte comida de panela (carne, arroz, feijão, etc) fria, mas a marmita normalmente volta vazia! Diferente dos dias em que mando sanduíche - eu faço o sanduba dele só com 1 fatia de pão e ainda assim quase sempre volta um pedaço...

Já Martim, que nunca foi chegado em comida de almoço, adorou a mudança! E, depois de um tempo se alimentando basicamente de frutas, iogurte e pão, começou a pedir carne com arroz na janta!  :-)

É... um negócio é certo: a gente se acostuma com (quase) tudo!

E a parte boa dessas mudanças é o exercício de adaptação, o treino na flexibilidade. Sair da zona de conforto e procurar conforto em outras rotinas, de outras maneiras, com outros sabores...

Difícil? Hum, às vezes é sim, mas quando acho as diferenças culturais difíceis de engolir, gosto de pensar no que uma outra brasileira me falou um dia desses: "tente ficar com o melhor dos dois mundos".  ;-)

Agora, uma curiosidade: o que foi/seria mais difícil para você?
Que diferença cultural exigiu/exigiria mais da sua capacidade de adaptação?
Pode votar na enquete aí do lado!  :-)

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Diferenças culturais - "sim" é sim e "não" é não... Né não?

De onde eu venho, entre um "sim" e um "não" existe um milhão de possíveis significados... Por exemplo, um "nããão" com beicinho, já é quase um "sim", basta apenas perguntar de novo! E um "sim" emburrado e de bate-pronto é pior que um "não", né não?   ;-)

Na Coréia, os "sims" e "nãos" também são flexíveis e Sam estava bem preocupado com isso, uma vez que para os kiwis "sim" é sim e "não" é não - simples, claro, direto e fim de papo. Não há entrelinhas e ninguém pergunta de novo!

Aparentemente, a maior preocupação de Sam está ligada a consultas médicas... Quando um médico, no meio da consulta, pergunta a um coreano "Você entendeu?", é quase certo ele receber como resposta um rápido e sorridente "Yes, yes", que significa algo como "Não sei... Talvez... Acho que não, mas não estou confortável para perguntar nada". O problema é que se o médico for kiwi, a tradução será literal e, se o paciente compreendeu tudo, por que danado ele explicaria de novo?!

Então, só para saber se você entendeu o que estou falando, imagine que você acabou de chegar na casa de um kiwi colega seu. São umas três da tarde e você almoçou muito bem, ainda vai demorar para ter fome de novo... O seu colega está finalizando uma maquete detalhada do próximo parque da cidade e de repente lhe pergunta: "Quer um docinho?". O que você responde?

Bom, eu responderia que não, não só porque não estou com fome, mas também (talvez principalmente!) porque acabei de chegar e não ia querer atrapalhar o trabalho do rapaz, né?  :-)

Então o kiwi, depois de ouvir o meu "Não, não precisa", interrompe o trabalho de qualquer forma, vai lá na cozinha e volta com um pratinho de doces estupendos, daqueles que dão água na boca só de olhar, que a avó dele trouxe diretamente da nova doceria super chique que abriu na rua... Ele se senta no sofá do seu lado e vai conversando e comendo sozinho os docinhos, bem tranquilo...

Está esperando que ele ofereça de novo?!   E s q u e ç a.
Aqui ninguém entende aquela história de negar três vezes a comida antes de dizer "Sim, eu quero". :-)

E se, no final de um jantar com vários amigos, naquela hora em que a mesa fica cheia de várias conversas ao mesmo tempo, o anfitrião kiwi perguntar "Quem quer café?", é melhor parar a sua conversa no meio e dizer que quer em alto e bom som, pois ele vai perguntar uma única vez e preparar a quantidade exata de xícaras para servir apenas quem respondeu que sim...

Agora, tem umas vantagens nessa maneira direta de encarar os "sims" e os "nãos": crianças kiwi normalmente não ficam insistindo interminavelmente quando querem algo e você nega - "não" é "não". Ponto.

Sam veio da Coreia para cá há 20 anos atrás, acompanhado da esposa e de uma filha. Depois que estavam morando aqui tiveram um menino e Sam conta que o garoto, apesar da influência dos pais (ambos coreanos), percebe os "sims" e os "nãos" de maneira completamente diferente da menina.

Diferenças de gênero a parte, pensando nisso tem vezes em que eu quase queria que os garotos tivessem nascido aqui...   ;-)

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Diferenças culturais - Sem sobras!

Então, hoje volto aos comentários de Sam!... :-)

Outra diferença cultural que ele compartilhou conosco, também relacionada à comida e a socialização que ela pode (ou não!) proporcionar, foi: aqui normalmente não há sobras, isto é, os kiwis costumam preparar a quantidade de comida exata para servir às pessoas que moram com eles, ou que eles convidaram para suas casas.

Parece uma boa prática, não é mesmo? Afinal, evita o desperdício de comida! Mas tem duas consequências com as quais nem Sam, nem a gente está acostumado...

A primeira é que ninguém "fica para o jantar", não existe aquela história de "colocar mais água no feijão". :-)  Aqui, como em vários outros países onde o horário escolar termina no meio da tarde, a principal refeição é a janta (o almoço normalmente é apenas um pequeno lanche) e não espere que coloquem nenhum prato extra na mesa de última hora! Aliás, se você estiver na casa de kiwis depois das 17:30h, saiba que pode estar sendo inconveniente - é possível que eles estejam só esperando você ir embora para poderem jantar!

Minha professora de inglês, uma kiwi super simpática, falou que essa cultura tem origem na recessão dos anos 30, que atingiu fortemente o país. A comida tornou-se escassa e as crianças dessa época aprenderam na prática a não desperdiçá-la. Esse aprendizado foi mantido e repassado às gerações seguintes, mesmo após a melhora na economia, e, agora, parece ser algo incorporado à cultura da nação.

Sam percebeu a segunda implicação dessa postura anti sobras dos kiwis ao ser convidado para festas e descobrir que a sua família não estava inclusa no convite! Sim, os convites aqui costumam ser nominais. E, se você pretende levar alguém mais consigo, convém entrar em contato com o anfitrião antes e conversar a respeito.

Tenho que admitir que essa maneira de ser deve facilitar bastante a vida de quem está organizando a festa, mas confesso que achei muito estranho quando Caio (e apenas ele!) foi convidado para o aniversário de um amiguinho do jardim de infância. O convite dizia assim: "Drop off, please", o que, traduzindo, significa: Deixe apenas o convidado, por favor. Em outras palavras: pai, mãe e irmãos não inclusos!

Agora, me digam, como é que eu explico para Martim porque apenas o irmão dele pôde ir para a festinha?!?

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Enquanto isso, no Lego Display...

Continuo no intervalo das aventuras de Sam (prometo retomá-las no próximo post!), para mostrar as imagens de uma exposição de Lego que visitamos no final de semana, o Lego Display. Fui lá no domingo passado com os meninos e nos divertimos um bocado olhando toda a coleção!

Algumas peças eram ainda dos anos 70, vejam só:

E havia todo um setor dedicado a exploração do espaço.

Aqui está o barco mencionado no cartaz de divulgação, com cerca de 4m de comprimento e um dos lados montado como se tivesse sido cortado, mostrando os passageiros e tripulantes em diversas atividades dentro do navio! Pena que com tanta gente passando o tempo todo, não consegui bater fotos desse lado "aberto".




Os garotos adoraram o detalhe do tubarão na lateral!   :-) 






O Lego City ocupava uma área imensa, formando uma cidade em miniatura que tinha alguns desafios, como este:

Foi divertido encontrar esses personagens no meio da cidade...  :-)

Mas a parte que mais gostei foi uma dedicada a Guerra nas Estrelas (Star Wars). Apesar de só ter visto os filmes da trilogia inicial em video e DVD, eu gostava muito dela! Ver os Legos (havia cenas de todos os filmes da trilogia inicial representadas lá!) foi como relembrar as sensações que os filmes despertavam...

Outra peça que gostei muito foi uma Sky Tower com cerca de 2 metros de altura, bungee jumpers pendurados e até o Super Homem voando em volta!   :-)

Havia também algumas peças mais infantis, como essas das fotos abaixo. Eu adorei a casinha com jardim, mas os meninos gostaram mesmo foi da coleção de carrinhos!
A exposição era imensa, do tamanho de uma quadra de futsal.

E ao sairmos, fomos aproveitar o resto de tarde em Mission Bay - praia linda, mesmo em um dia nublado como foi o domingo!...

E fico pensando se a vida da gente não é assim... Ir juntando as peças, os pedacinhos que interessam, até construir algo que faça sentido para nós. Talvez o segredo seja apenas saber separar (e manter!) as peças relevantes (saber encaixá-las nas nossas vidas!), deixando de fora aquelas que não agregam ao que queremos criar...

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Enquanto isso, no Brasil...

Que resultado apertado essa eleição presidencial teve, nossa! Não lembro de ter visto nenhuma com números tão próximos assim!

Hoje vou abrir um parênteses nas aventuras de Sam para dizer que é estranho acompanhar uma eleição presidencial estando fora do país... Não sei se é a distância geográfica que joga um pouco de água fria no evento ou se é o fato de não ter votado. O que sei é que existe uma diferença entre acompanhar debates, discussões e notícias pela internet e sentir o clima de tudo estando dentro de casa. A euforia geral que acompanha as eleições no Brasil simplesmente não chega aqui em Auckland.

Os brasileiros da Nova Zelândia só podem votar na embaixada brasileira em Wellington. E como Wellington fica a quase 500 km de distância de Auckland, então, participar dessas eleições não estava nos nossos planos. Não chegamos nem a transferir nossos títulos...

Mas vendo o jornal da noite comentar sobre o resultado do 2o turno (até mostraram parte do discurso de Dilma e da campanha de Aécio!) me deixou com vontade de também exercer meu direito/dever cívico nas próximas eleições. Se ainda estivermos por aqui, vou procurar os serviços eleitorais da embaixada para transferir meu título.

Até lá, torço para que o Brasil tenha força para convergir as opiniões, seguir honrando a democracia e realmente cobrar dos candidatos eleitos a realização das propostas que os colocaram/mantiveram no poder.

Oxalá um dia chegaremos lá!

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Diferenças culturais - Está servido?

Ontem, na aula de inglês (sim, eu também estou estudando!), recebemos a visita de Sam, um coreano que, se eu entendi direito, trabalha promovendo os serviços de saúde neozelandeses junto a imigrantes asiáticos. Ele falou para a minha turma cerca de 1 hora, mas por uns dois terços desse tempo a conversa não foi exatamente sobre serviços de saúde, mas sim sobre diferenças culturais! E o papo foi tão bom que acho que vou dedicar os próximos posts a comentar o que ele compartilhou conosco...  ;-) 

Sam nos disse que o seu primeiro choque cultural (e talvez o maior deles!) aconteceu quando ele se sentou ao lado de um colega para almoçar e o colega não lhe ofereceu comida – simplesmente sentou-se e começou a comer, sem oferecer nada. “Era como se eu não existisse”, disse Sam, “No meu país isso é um absurdo, todo mundo oferece a comida antes de comer!”.

Isso não significa que se você oferecer sua comida a um coreano ele vai aceitar. Na verdade, eles normalmente não aceitam. “Sabemos que não é uma pergunta de fato, é apenas um pequeno ritual que ocorre antes das refeições. O outro espera você dizer que não quer para começar a comer”, explicou Sam. Algo semelhante ao nosso “Está servido?”.

Até Sam entender que esse comportamento dos seus colegas kiwis não acontecia por sua causa, mas sim devido ao “jeito kiwi de ser”, ele se sentiu muito mal. “Por que não me oferecem a comida? Não sou bem-vindo? O que há de errado comigo?!” – era o que ele costumava pensar.

Caio, que gosta de compartilhar sua comida e adora quando os outros compartilham a comida deles com ele, também deve ter sofrido um pouco por causa disso. No kindergarten (jardim de infância) que ele frequentava, as crianças almoçavam juntas duas vezes por semana, cada uma levando sua comida de casa.

Eu lembro que várias vezes ele voltou do kindergarten meio chateado nesses dias do almoço, dizendo que havia “comido sozinho”. E eu tolamente sugeria: “Senta mais perto das outras crianças”. Mas de que adiantava sentar perto dos outros se ele ainda ia comer sozinho só a sua comida?

Realmente, para quem absorveu muito bem o conceito de que a mesa é um instrumento de socialização, sentar-se com várias crianças que ainda não conhece bem, sem falar uma palavra do idioma delas e “comer sozinho” deve ser duro...

A cara-após-almoço dele só começou a melhorar depois que o jardim de infância promoveu um almoço coletivo de fato, onde as crianças deveriam levar comida para compartilhar com seus colegas e os pais poderiam ir almoçar lá também. Mas infelizmente eu não entendi bem a mensagem e achei que o kindergarten é que iria oferecer o lanche coletivo. Pensei que apenas os pais que fossem almoçar lá é que deveriam levar seu almoço e, como eu não pretendia almoçar lá, não levei comida nenhuma. Agora, imaginem a bronca que o sujeito me deu quando cheguei lá de mãos abanando!...

Ele ficou tão chateado que eu já estava a ponto de correr na bodega mais próxima e comprar nem que fosse um pacote de biscoitos para ele dividir com os colegas. Mas, para nossa sorte, a mãe de um de seus amiguinhos falou que tinha comida suficiente para todos e nos chamou para almoçar com eles. No começo Caio ficou meio sem jeito, pois também queria ofertar algo, mas depois relaxou e até ofereceu umas cenouras do amiguinho para outras crianças!  :-)

Inclusive, acho que foi depois desse dia que ele virou fã de cenourinhas cruas!...  :-)  

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Fush and Chups

Semana passada eu estava lendo uns livrinhos da escola dos meninos e, de repente, percebi que minha pronuncia melhorou! Parece bobagem, né? Mas para mim foi muito significativo, depois de seis meses morando aqui, finalmente notar uma melhora no meu inglês. Não é que eu já esteja super fluente ou satisfeita com o meu listening (longe disso!), mas começo a me sentir mais confortável com a língua.

É verdade que leio bem em inglês já há bastante tempo e, com a ajuda do Google e dos corretores ortográficos, minha habilidade de escrita também é boa.  Mas meu listening e speaking, por outro lado... Eram o suficiente para interações ocasionais de trabalho, conferências e turismo, mas não para encarar o país com inglês falado mais rápido do mundo! Isso sem mencionar o vowel shift dos kiwis, uma mudança na maneira como eles pronunciam as vogais que faz, por exemplo, bed (cama) soar como bid (lance, proposta de preço).

A gota d’água foi quando meu contato mais legal para trabalho me chamou para um café. Ele era inglês, não tinha o sotaque dos kiwis e também não falava tão rápido, mas mesmo assim eu entendi muito pouco da nossa conversa... Tudo bem, fazia apenas 2 meses que havíamos chegado e eu estava meio tensa porque era meu primeiro contato profissional, mas, desculpas a parte, foi terrível constatar que eu não conseguia me comunicar direito...

Nós sabíamos que entender os kiwis podia ser bem difícil, descobrimos isso quando viemos aqui no ano passado. Ainda lembro de alguns telefonemas que precisei dar... Um pesadelo! Era quase impossível saber o que eles falavam por telefone! E, para completar, muitas vezes eu também não conseguia me fazia entender e precisava ficar repetindo o que queria dizer para me comunicar... 

Então, partindo da experiência prévia, eu sabia que essa questão da língua não seria fácil. Mas o que eu não sabia era o quão desesperador ela poderia ser! É difícil descrever o que você sente quando a habilidade de se comunicar plenamente é abalada... Para mim foi frustrante, deprimente. Afetou minha capacidade de sentir-me humana, de sentir-me parte integrante da sociedade

Procurei, em vão, por uma palavra que pudesse descrever essa sensação... Mas até agora a melhor palavra que consegui é, ironicamente, da língua inglesa - foi uma americana, que trabalha no jardim de infância que Caio frequentou, quem me ajudou a encontrá-la: hopeless (sem esperança). Quando não consigo me comunicar, eu me sinto hopeless.  :-(

E nessa hora, em que a sensação de estar “sem esperança” pesa, os amigos contam. Não só pelas histórias que eles compartilham, sobre como passaram pela mesma situação e eventualmente deram a volta por cima, mas, principalmente, pelo “vínculo com a humanidade” que proporcionam.

No entanto, quem me deu a maior força de todas nessas horas foi meu filho mais velho. É que ele sempre foi tão corajoso e confiante com relação ao inglês! Teve lá suas dificuldades, é verdade (e ainda vou compartilhar um pouco disso com vocês!), mas sempre manteve uma postura autoconfiante e positiva a respeito disso. Ao voltar para o Brasil após 1 mês de férias aqui no ano passado, ele costumava dizer que já havia aprendido inglês. As avós perguntavam para ele se iria aprender inglês quando mudássemos para cá e ele respondia: “Eu já sei, vó; eu falo inglês”.

Quando chegamos, em abril deste ano, a única frase que ele de fato falava era um genérico “Oh, boy!”, o qual, mudando a entonação, usava em todo tipo de contexto. E talvez seja essa a chave para o sucesso com a nova língua: interagir o máximo possível e sempre manter a confiança em sua capacidade de comunicação. Mesmo que isso não signifique, necessariamente, ser fluente no inglês.  :-)

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A rede do bem – continuação

Dizem que os kiwis são meio reservados, que leva uma eternidade para lhe convidarem à casa deles... E, pensando bem, com exceção de um jantar na casa de Mathew (que nos alugou um apartamento fantástico quando viemos aqui no ano passado) nunca fomos à casa de nenhum kiwi. Ou, pelo menos, nenhum casal de kiwis - já almoçamos na casa de um que é companheiro de uma brasileira que trabalha com Roger, mas, dado que o convite partiu da brasileira, acho que esse não conta. Eu também já fui algumas vezes levar e buscar Caio na casa de seus amiguinhos neozelandeses, mas essas tampouco valem, não é?   :-)

O fato é que praticamente não fomos a casa de kiwis! E, até agora, eu nem havia me dado conta disso... Provavelmente porque estivemos tão ocupados visitando os brasileiros e outros amigos imigrantes que nem percebi.

Por outro lado, lembram da pernambucana do queijo coalho?  O marido dela conhece o amigo de um amigo nosso, que mora na Austrália. Todos brasileiros, então... Alguns emails, mensagens de texto e telefonemas depois, lá estão os pernambucanos nos convidando para um churrasco na casa deles, sem nem sequer terem visto a nossa cara antes!

E assim nossa rede foi crescendo... Eu sei que pode não ser fácil ir à casa de quem você mal conhece (ou não conhece mesmo!), principalmente quando você acabou de mudar para outro país, está cansado e preocupado, tentando achar um lugar para morar, pesquisando escola para as crianças e procurando emprego... Mas vale a pena!

Se você deixar o coração aberto e priorizar os contatos, as amizades, a rede cresce. E os novos amigos não só fornecem todo tipo de informações e dicas úteis para acelerar a adaptação à nova vida, como também compartilham suas próprias redes de relacionamento, ajudando na busca por trabalho. Por último, e talvez o mais importante, eles aquecem o coração da gente, dão alento e esperança, fazem você se sentir "em casa".

E o mais interessante é que todos parecem ter grande satisfação em ajudar... São como uma grande "corrente do bem", onde quem recebe, como nós, fica doido para repassar os presentes para mais alguém! Então, se você aí algum dia resolver se aventurar por aqui, entre em contato, tá? Teremos o maior prazer em ajudar!  :-)

Para terminar, algumas fontes de brasileiros aqui em Auckland:

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A rede do bem

Quando passamos um mês aqui, no ano passado, encontramos apenas 1 brasileiro – um rapazinho que, por sinal, estava de mudança para Christchurch. Então, desta vez, foi uma agradável surpresa conhecer tantos compatriotas em tão pouco tempo!

O primeiro brasileiro que conhecemos após nossa mudança foi um curitibano, que encontramos no aeroporto mesmo, assim que chegamos aqui. Ele trabalhava orientando os passageiros em relação às restrições neozelandesas para a entrada de alimentos no país, assegurando que todos que chegavam soubessem a multa que pagariam caso tentassem desembarcar com alimentos proibidos. Escutou a gente falando, viu que éramos brasileiros e teve a delicadeza de nos passar as orientações em bom e claro português. Pode não parecer muito, mas depois de 13 horas de voo, com Martim enjoando em boa parte do trajeto, foi uma gentileza muito apreciada de minha parte.

Resolvemos esperar Martim ficar melhor antes de pegar a van para a casa de Maree e, enquanto esperávamos, acabou o plantão do curitibano. Quando ele nos viu no saguão do aeroporto, presenteou-nos com a segunda gentileza do dia: foi até nós, apresentou-se e contou um pouco de sua experiência aqui. Confesso que entre o sono, o cansaço e a atenção com os meninos, eu não participei muito da conversa não, mas lembro-me perfeitamente de duas mensagens. A primeira era que “o primeiro inverno é o pior” – ouvir isso de um curitibano foi meio assustador, mas serviu para balizar bem minhas expectativas.  E, no meio do inverno, num frio de lascar, as palavras do curitibano eram uma espécie de conforto, afinal, pior que isso não vai ficar, né?   :-)

A outra mensagem que guardei foi que “a primeira volta ao Brasil é a mais difícil”. Bom, aqui ainda não posso opinar, mas com certeza não vou esquecer isso também – vai me ajudar a preparar o coração para nossa visita à terrinha...

O curitibano também nos passou o contato de uma potiguar (a mesma que me deu as dicas da tapioca!) que organiza o Brasileirinho, um grupo para manter a cultura brasileira e a língua portuguesa vivas nos brasileirinhos que moram aqui. E o marido dela, da área de TI, nos deu a MAIOR força na busca por trabalho. Através deles, ficamos sabendo das festas de São João (qualquer dia desses conto mais sobre elas!), onde estavam também vários outros brasileiros, outras experiências, sugestões...

Logo após nossa chegada, começamos a procurar casa para aluguel de longo prazo e aqui, com o mercado imobiliário superaquecido, as casas normalmente têm horários específicos para a visita de possíveis novos inquilinos. Nesses horários, todo mundo que tem interesse na casa pode aparecer para dar uma olhada. Pois bem, estávamos nós, numa bela manhã de abril, avaliando uma casa (a que acabamos por alugar, a casa onde moramos hoje), quando aparece uma lourinha e um grandão para verem o imóvel também. “Hi”, “Hi, morning” e lá se foram eles casa adentro, olhar os cômodos que nós já havíamos visto. Dois minutos depois eles nos escutam falando em português com os meninos e o “Hi” vira um “Oi, vocês são brasileiros?” acompanhado de um largo sorriso...

Pessoas boníssimas, eles nos falaram que essa casa estava em uma ótima vizinhança, com boas escolas e nos contaram sobre outras áreas com escolas e vizinhança não tão boas assim!... Trocamos os números de telefone e alguns dias depois lá estava eu ligando para a loura para perguntar sobre uma outra área da cidade enquanto Roger saía com o grandão para ver lojas de carros. Pronto! Daí para um convite para ir à casa que dividiam, comer um churrasco, foi um pulo! Depois disso, já estavam nos ajudando com a mudança e o grandão, que também trabalha com TI, levou Roger para uma entrevista com o chefe dele. A entrevista não deu em nada, mas a amizade continua firme e forte até hoje!  :-)

E entrou pela porta da frente, saiu pela porta de trás 
e quinta-feira eu conto mais!...   ;-)

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Pergunte aos brasileiros


Sabem, até que não é difícil encontrar uns "gostinhos" do Brasil por aqui. Os mercados asiáticos sempre têm feijão, macaxeira e uma espécie de goma de tapioca desidratada. E no supermercado a gente compra cuscuz de milho (que aqui eles preparam na panela, como cuscuz de semolina), então, quando encontrei essa panela da foto, só faltei dar uns pulinhos! Basta colocar ela sobre uma caçarola para ter uma cuscuzeira perfeita! Então agora comemos cuscuz bem fofinho, preparado no vapor. Não fica igual ao nosso flocão, mas engana bem.  :-p

Para descobrir onde achar o que, o negócio é saber a quem perguntar. E a dica é perguntar aos brasileiros! Os que estão aqui há mais tempo compartilharam conosco vários segredinhos...

O melhor deles quem me contou foi uma pernambucana, quando comentei que sentia saudades de queijo coalho. Ela sorriu e falou que queijo coalho não tinha, mas tinha um outro igualzinho a ele, chamado Havarti. E eu duvidei: "E ele assa feito queijo coalho?". Assa, assa que faz casquinha e tudo!  :-P


Eu nunca iria imaginar que um queijo bem bonitinho e meio caro, desses que vendem em embalagens pequenas, era um primo-irmão do nosso popular queijo coalho! É... Deus abençoe os brasileiros espalhados pelo mundo afora!


Outro segredinho de ouro foi uma potiguar quem contou: "Para fazer tapioca, coloque a goma na água". Também foi ela quem me disse que a goma aqui é chamda de tapioca starch e é vendida nos mercados asiáticos. Eu comprei, mas sem o segredinho não teria saído tapioca nenhuma porque a goma é seca que doi. Tem que deixar ela de molho um tempo, como aquelas gomas de antigamente que precisavam ser lavadas antes de usar. Depois que ela assenta, é só escorrer a água, peneirar e pronto! Tá no ponto para encontrar o Coalho-Havarti e o coco ralado na frigideira!

E que Deus abençoe os nordestinos espalhados pelo mundo afora!...  :-)


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Mais saudade – cuidado com as formigas sararás!

Obrigada, pessoal, pelas dicas sobre como manter a saudade distante! Devagarinho, a gente vai pegando o jeito e aprendendo o que fazer a respeito... Fogo é que vez por outra aprendemos também o que não fazer! E já que tem outros saudosos por aí, vou compartilhar uma lição que aprendi há umas semanas atrás...

Era um sábado ensolarado e quente e eu estava super bem, com um baita bom humor (o que normalmente acontece em dias ensolarados e quentes).  :-)

Coloquei Cantoria de festa para acompanhar o café da manhã e lá vem Xangai, pisando maneiro, a falar das formigas sararás... Pra que?! A reboque das formigas lá veio a saudade de novo, me atazanar o juízo e apertar o coração!

É que formiga sarará, num repente, numa cantoria, é "raiz" demais! Dá até para sentir o cheiro da nossa terra misturado na música... Pronto! Depois disso não havia sábado de sol que resolvesse, a saudade já esfriara tudo por aqui...

E eu aprendi que, em se tratando de saudade, algumas músicas são perigosas. Melhor deixar os CDs de Xangai, Lenine, Pouca Chinfra e outros da turma deles bem guardadinhos por enquanto. E, quem sabe, ir me enturmando com Broke Fraser e conhecendo melhor o Kapa Haka... 

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Tipos de saudade

Antes de mais nada, deixem-me agradecer pelas mensagens tão legais que recebi sobre a saudade! E compartilhar com vocês o caminho para uns versos fantásticos, enviado por meu amigo Fábio, para ouvir “quando a saudade estiver apertando menos”.  :-)

Falando nisso, posso também pedir para vocês comentarem aqui mesmo no Blog, ao invés de no Face ou por email?  Assim fica tudo juntinho, pertinho e ligado, e a gente vai fazendo um assustado, pra espantar a saudade...

Espantar a saudade ruim, aquela que arde Qui nem Jiló, como dizia Luiz Gonzaga. Porque (vocês estão certos!) também tem a saudade boa, onde “a gente lembra só por lembrar” e esse tipo de lembrança aquece a alma, alimenta o coração da gente. Mas no último post eu falava era da saudade ruim, aquela que tem cara de monstro, que tem jeito de abismo sem fundo (valeu Luca, adorei a comparação), que engole o saudoso vivo se ele não se cuidar!

Ela chega sem aviso e quando você percebe, já está fungando no seu cangote. Ou melhor, soltando seu hálito gelado sobre você... Eu sei que essa saudade danada não gosta de sol, nem de calor humano. Mas o que mais pode mantê-la distante?

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Saudade

"A saudade é como um barco, 
 que aos poucos descreve um arco
 e evita atracar no cais"

Pedaço de mim, Chico Buarque

Se tem algo que realmente atrapalha essa história de se sentir em casa é a tal da saudade. Pois é, saudade é um negócio esquisito... Surge não se sabe de onde, sem aviso, e, se você deixar, toma conta do mundo!

Ela me pegou numa madrugada dessas, ainda no meio do inverno, dum jeito que eu nunca havia imaginado antes. Mas antes de dizer como foi, deixa eu contar aos que moram perto da linha do Equador que aqui, no inverno, o dia começa a clarear depois das 7 da manhã! Faz um frio danado (pelo menos para mim, que venho de Recife, no nordeste do Brasil) e a maioria das casas tem carpete cobrindo o chão.

Bom, nessa noite em que a saudade me mostrou sua cara medonha, Caio encontrou o caminho para nosso quarto pela primeira vez. Até então ele e Martim estavam dormindo bem bonitinhos nas caminhas novas deles. Até quando "acamparam" nos sofás da sala, logo depois da mudança, dormiram a noite inteira por lá!

Mas nessa madrugada Caio apareceu sem aviso, procurando um lugarzinho sob nosso lençol e ligando o interruptor da minha memória afetiva... É que no Brasil ele costumava fazer isso, costumava aparecer na nossa cama no meio da noite. Os quartos eram próximos e depois que tiramos a grade do berço do menino, quase toda noite lá vinha ele, arrastando o travesseiro, deitar conosco. 

Não sei bem porque, mas a imagem dele chegando nesse novo quarto, nesse outro país, foi o suficiente - a saudade me tomou por completo. Forte, profunda, inexorável. 

Nosso quarto no Brasil tinha um janelão imenso, de parede a parede, em frente à cama. Às 5 da manhã já estava cheio de luz (e eu a-do-ro acordar com o sol). O piso era de madeira. Quando o menino chegava, calorento que era, não queria se cobrir - queria deitar no meio da cama, mas sem se cobrir. Empurrava o lençol para baixo com os pés, descobrindo a mim e a Roger. Como eu tenho mania de dormir coberta, a gente passava alguns minutos num puxa-empurra de lençois até encontrar uma posição confortável para todos novamente...

Agora, como explicar uma saudade tão avassaladora disso, dessa cena, dessas sensações?! Nessa madrugada foi a primeira vez em que não me senti "em casa" aqui na Nova Zelândia. Na verdade, senti-me um peixe fora d'água, sufocado de saudade. Minha casa é aquela, que acorda cheia de luz, com o chão de madeira, onde o menino chega de mansinho, de um quarto bem pertinho, e empurra o lençol com os pés...

O QUE EU ESTOU FAZENDO AQUI?!?

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Em casa – com um abraço da Harbour Bridge

Tem pessoas que nos deixam completamente a vontade, não é? Bom, espero que você tenha a sorte de conhecer muitas pessoas assim... Sabe aquelas pessoas com as quais você curte estar, com as quais você se sente em sintonia? Às vezes, nem é preciso falar nada, a simples presença delas já basta para provocar uma sensação agradável, calorosa como o sol de final de tarde...

É, eu sei, para se sentir assim com alguém em geral leva algum tempo – é preciso antes conhecer, adquirir confiança, familiarizar-se. É preciso gostar do jeito dela, afinar-se com o seu ritmo, entrar em uma espécie de equilíbrio com aquela pessoa.

Bom, acho que isso acontece com as cidades também. As cidades têm personalidades próprias, têm um ritmo, uma aura. E, se você se integra com elas, estar ali é estar em casa.

Eu tinha uma relação assim com minha cidade natal, Recife. Adorava a vista do mar, amava os rios e as pontes! Ganhava o dia quando podia ir de Boa Viagem para a Av. Agamenon Magalhães pela beira-mar e seguia pela Ponte José de Barros Lima, abria o vidro do carro e escutava o sussurro dos pilares da ponte ao passar!

Depois Recife cresceu demais e eu perdi um pouco dessa ligação fraternal com ela... Mas Roger e eu encontramos Aldeia e após um tempinho morando lá, subir a PE-027 (Estrada de Aldeia) era como abrir o portão de casa...

Por isso admiro as pessoas que se dispõem a mudar para uma cidade sem nunca ter ido lá antes – recebem uma proposta de trabalho pela internet, arrumam as malas e vão. Acho que eu nunca teria coragem! Sou do tipo que precisa ver, ouvir, sentir o cheiro do lugar. Saber que será possível entrar em sintonia com a cidade. Pois existem lugares com os quais é fácil fazer isso e outros que exigem um pouco mais de trabalho, tempo, dedicação. E existem ainda aqueles nos quais eu não gostaria de morar de jeito nenhum!

Auckland? Bem, era um lugar neutro para mim... Por isso o seu abraço caloroso me supreendeu! Lembro um dia que andava meio chateada sei lá com quê e passamos pela ponte Harbour... Aquela vista foi como um colo amigo – do outro lado da ponte eu já me sentia um pouco melhor!  :-)

Mas confesso que a cidade, e toda a afinidade que podemos ou não ter com ela, é só um lado da moeda. O outro lado são as pessoas que nos acompanham ou que conhecemos por lá. Como diz uma querida amiga (que preferiu escrever por email!), “a nossa casa é onde estão as pessoas que a gente mais ama”. E eu tenho a sorte de trazer parte considerável da minha casa comigo...

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Enquanto isso, na escola dos meninos...

...Começou a Book Festival Week - uma semana para expor os trabalhos literários das crianças e estimular o gosto pela leitura!


Pena que não posso revelar os detalhes dos trabalhos nas fotos, porque eles tem uma política de não divulgação de qualquer informação relacionada às crianças na internet...

Mas abaixo de cada desenho/colagem tem uma pequena história feita por cada criança. Algumas escrevem bem mesmo e havia ilustrações interessantíssimas!








Bom, as histórias das outras crianças eu não posso mostrar, mas as dos meus filhos eu posso, né?

Olhem a de Martim!
E podem me chamar de mãe coruja, que eu sou mesmo!  :-)






Até a turminha de Caio (Room 0), que iniciou inteirinha há 15 dias atrás, também preparou umas historinhas!


Mas o melhor mesmo eram os auto-retratos!  :-)

Durante esta semana eles vão receber a visita de autores e ilustradores e na sexta-feira todo mundo vai fantasiado como um personagem de livro. Adivinha que fantasia os meninos querem usar?

Hoje era o dia dos familiares irem ler histórias nas turmas de seus filhos. Histórias que as crianças gostam, contos queridos, contos da sua terra natal... Bem, os nossos são em português, né? A professora de Martim me falou que eu poderia ler em português sim, que não tinha problema nenhum, que Martim e um outro brasileirinho que faz parte da turma dele iriam gostar e eu... Fui!



Só que eu li muito pouco porque Martim acabou lendo quase toda a história! E eu lá, de queixo caído, porque ele continua lendo em português. E lendo até melhor do que lia quando a gente saiu do Brasil! Como?! Sei não, só sei que foi assim... :-)

Também li umas historinhas na turma de Caio, mas lá eu fui lendo em português e traduzindo para o inglês. Engraçado era Caio me ajudando a traduzir! A professora dele filmou uma das historinhas e ficou de me passar uma cópia do vídeo - se nele não aparecer mais nenhuma criança além de Caio eu o compartilho com vocês também.

Curioso é que as coleguinhas de Caio estavam realmente interessadas em ouvir  uma história em português! Acho que nossa lingua soa bem, é doce de ouvir... Parece que a turminha de Caio também pensa assim!  :-)

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Nosso leite, nosso queijo, nossa casa!

Então, foi com muita alegria que percebi, logo na nossa primeira manhã aqui na Nova Zelândia, que eu me sentia em casa!!! E olha que a gente nem estava na nossa casa definitiva, estávamos na casa de Maree, em Blockhouse Bay, que alugamos por apenas 1 mês.

Tá, tudo bem. Quem acompanhou as últimas semanas da gente no Brasil bem que pode estar pensando “Depois daquele caos que antecedeu a mudança, você iria se sentir em casa em qualquer lugar”. É, provavelmente iria mesmo! Ainda mais considerando que antes de mudar fiquei mais de 1 mês  na casa da minha mãe, para me recuperar de uma pequena cirurgia (estada ma-ra-vi-lho-sa, mãe! Huummm... Que saudade das noites regadas a sorvete e Dr House) e depois caí quase que direto na operação “desmonte-o-seu-lar”. Uuui! As duas últimas semanas antes da viagem foram fogo! Quando eu me recuperar psicologicamente daquele inferno, prometo que conto para vocês. Por hora, basta dizer que ainda estávamos em casa, mas a cada dia ela se parecia mais com um acampamento de guerra e menos com o nosso lar!  :-)

Na véspera da viagem dormimos no apê de Dona Nininha, minha sogra. Depois dormimos no avião, num hotel no Chile, no avião de novo... Bom, desse jeito, qualquer lugar minimamente organizado onde fôssemos passar mais de uma semana já seria um bom candidato a lar, né?

Mas, circunstâncias a parte, o que aconteceu é que eu de fato me senti em casa logo na primeira manhã (ou noite – na verdade, não lembro bem que horas eram) após a nossa chegada.  Foi mais ou menos assim que aconteceu...

Acordei completamente grogue, sem saber direito onde estava e com hipoglicemia – mais uma. :-(  É difícil gerenciar as grandes diferenças de fuso horário, quando você é um diabético insulino-dependente como eu...

Roger me falou para comer alguma coisa e eu obedeci, meio no automático, tentando descobrir onde estava e o que estava fazendo ali. Não sei bem porque, eu achei que ainda estávamos em trânsito, talvez em algum outro hotel no meio do caminho... Fui comendo e, devagarinho, a ficha foi caindo, as peças foram se encaixando... E então eu reparei em um queijo que estava sobre a mesa. Um queijo ralado, tipo Edam, cujo pacote falava algo sobre ele ser feito com o nosso puro leite neo-zelandês. Nosso leite, nosso queijo, nossa... Casa! Nossa casa! Uau! A sensação me varreu por inteiro e até hoje lembro quão reconfortante ela era! Estávamos em casa.


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Sentir-se em casa

Para começar, deixa eu dizer a vocês o que mais me assusta nesta história toda, o que sempre me assustou, desde que começamos a pensar em morar fora do Brasil por um tempo...

Tenho um amigo querido que mora nos EUA, migrou a muitos anos atrás, e certa vez perguntei a ele como era morar no exterior. Sua resposta me surpreendeu. Ele me contou que o mais duro de morar no exterior era que ele nunca mais havia se sentido "em casa". É que segundo ele, lá não era a sua casa, o seu lar. Ele tinha uma boa casa, bom trabalho, a família estava bem adaptada, mas acho que ele acreditava que lá nunca seria a sua casa. E, quando ele voltava para o Brasil, de férias, estava sempre na casa de sua mãe, que, evidentemente, também não era mais a sua casa. Resultado: ele nunca mais se sentira completamente em casa em lugar nenhum!

É claro, ele me contou muitas outras coisas também, lembro-me vagamente de algo sobre o seu trabalho e o de sua esposa, que eram muito estimulantes, mas o fato é que essa questão de sentir-se em casa eu nunca esqueci. Já viajei muito, sempre gostei de viajar e sempre achei que preciso viajar mais e mais (é uma sede de beber o mundo que não acaba nunca!     :-)). Mas sempre gostei de voltar para casa. Quando viajava de férias, mesmo que para longe, gostava de programar a volta para as 6as feiras, só para ter um final de semana em CASA antes de voltar à rotina. A idéia de não ter mais "casa", não ter mais essa referência, sempre me assustou. É como não ter raízes, e sem raízes... Quem é você?

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Pra início de conversa

Quando viemos aqui em setembro do ano passado, para nosso "test drive" da Nova Zelândia, minha irmã Ana reclamou pra caramba da falta de notícias. Eu costumava mandar um email toda semana contando as novidades, falando das nossas sensações e descobertas por aqui e era um graaaandee email, mas aparentemente não era suficiente...

No aeroporto, do dia de nossa mudança para cá, ela me fez instalar o Viber no celular. Parece que estava adivinhando, porque desta vez eu passei quase 6 meses sem escrever praticamente nada! Claro, houve muitas frases curtas pelo zapzap (WhatsApp), video-chamadas pelo Skype e um monte de ligações pelo Viber (acostumar com a diferença de fuso é que foi fogo! Ela me acordava de madrugada, toda animadinha, para perguntar o que estava rolando... Minha vontade era responder "frio, sono e dor de cabeça", mas tudo bem... Afinal, distraída, eu também liguei para ela uma ou duas vezes no final do dia aqui, ou seja, umas 2 da matina no Brasil). Mas o que aconteceu é que esses aplicativos todos (Viber, Skype, WhatsApp, Hangouts) acabaram me dando uma sensação "de contato" e aquela conversa mole contando sobre nosso dia-a-dia por aqui foi ficando sempre para depois...

  • Depois da gente se recuperar da viagem (e da última semana de completo caos antes da mudança!)...
  • Depois de organizar os pertences das 12 malas que trouxemos (é, bem que eu queria ter sido mais esperta na hora de arrumar essas malas!) na holiday house (casa para aluguéis de curto prazo) que alugamos por 1 mês...
  • Depois de conseguir alugar uma casa por longo prazo e adquirir o básico para viver nela (incluindo pratos, copos, lençois, toalhas)...
  • Depois de comprar um carro...
  • Depois de por os garotos na escola e kindergarten (jardim de infância, para as crianças com menos de 5 anos)...
  • Depois de conseguir transferir nosso dinheiro do Brasil para cá (e pense numa bronca que tivemos com isso!)...
  • Depois de mudar novamente (para a casa com aluguel de longo prazo)...
  • Depois de arrumar um emprego (mérito todo de Roger, fantástico esse cara! ;-) Que sorte eu tenho, né?)...
  • Depois de se adaptar à nova cultura e acostumar os ouvidos com o inglês (pelo menos o suficiente para entender o GPS!)...
  • Depois de se preparar melhor para o inverno...
  • Depois de aprender a dirigir novamente (na mão inglesa)...
  • Depois de cultivar novas amizades...

É mais ou menos como se a gente compactasse em alguns meses todas as atividades importantes que fizemos ao longo de vários anos no Brasil... Enfim, uma loucura, pode acreditar!

Só agora, quase 6 meses depois da nossa mudança e com a entrada de Caio na escola (na qual ele passa quase o dobro do tempo que passava no kindergarten), é que comecei a respirar mais aliviada e finalmente fiz algo que queria fazer a muito, muito tempo... Começar esse blog!   :-)

A idéia aqui é retomar a conversa-mole, o papo de final de tarde, e ir compartilhando nossas aventuras, sensações, sentimentos e aprendizados. Espero que vocês gostem! E que comentem, perguntem, interajam, sugiram... Que estejam presentes conosco aqui também!